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segunda-feira, 18 de julho de 2011

I Am Because We Are

Por Marcos Araújo

I AM BECAUSE WE ARE é filosofia, poesia triste, é a idéia que agrega o homem num todo irrepartível, ele existe, pois há no mundo tantos outros como ele, iguais a ele, sob a sua guarda, serventia, necessitando de sua ajuda – o homem é (existe) porque os outros também são. O documentário produzido por Madonna e dirigido por Nathan Rissman, lançado em abril de 2008 no 7º Festival de Cinema de Tribeca, é uma leitura crua do Malawi, país africano considerado mais pobre do mundo de acordo com dados do FMI de 2005.



Pensar na África ordinariamente recria um cenário repleto de miséria, é o que se disseminou culturalmente em boa parte do planeta, apesar de ser temerário sustentá-lo. Contudo, o Malawi não foge a essa regra, é um país rural, devastado por uma inércia política hedionda, pela ausência de liderança, progresso, um país de fome, órfãos, e devastado por doenças como tuberculose, malária, cólera e AIDS. Dos mais de doze milhões de habitantes, aproximadamente um milhão são órfãos, meninos e meninas descamisados, iletrados, grande parte portadores do vírus do HIV; que muitas vezes assumem a frente de um lar sendo a maior referência que seus irmãos e irmãs podem ter. Essas crianças são o Malawi de amanhã, ao menos as que sobreviverem, uma geração decrépita e carente de valores.

Os olhos custam a acreditar no que se projeta na tela, histórias e mais histórias de um povo massacrado pelas circunstâncias, funciona como um grito de alerta para que o homem perceba que a miséria não é um problema do Malawi ou da África em si mesma; no entanto, uma mácula ínsita de toda a humanidade. Qualquer homem médio é capaz de perceber a amplitude da desgraça deste povo a qualquer distância que seja, o problema se esparge, rouba lágrimas, aperta o coração mais do que a própria fome daquela gente que é tão nossa, gente que se parece tal e qual como nossos pais e todos aqueles que sabemos amar.

O ativismo de Madonna, produtora do documentário e mentora da Raising Malawi, uma organização de caridade, demonstra o seu crescimento enquanto ser humano. Ela declara não ter escolhido o Malawi, pelo contrário, o Malawi a escolheu, e o que transparece para qualquer telespectador de bom senso é o comprometimento e a humanidade com que ela se adequa diante de tantas desgraças. Durante a produção do documentário e  adoção de David Banda, criança adotada por Madonna naquele país, a imprensa marrom não poupou esforços para cercear as suas ações, tentando transformar todo o trabalho desenvolvido por ela numa forma de se promover.



Cada minuto de I Am Because We Are é fruto do amor, da dedicação e entendimento de uma mulher que entende  a desimportância de sermos sul americanos, europeus, africanos, asiáticos etc. É o produto da compreensão da humanidade como unidade, não como parte de um todo atomizado. I Am Because We Are é também fruto do esforço de uma grande equipe engajada em vociferar para todo o planeta que o Malawi precisa de ajuda; e, não menos importante, é um meio de nos retirar de uma zona de conforto particular para perceber um mundo ao redor que se estende além de perspectivas particulares, o palco do mundo é o nosso Universo mais próximo – é a legítima humanidade.

Madonna e seu filho adotivo, David Banda.
Assistir esse documentário ou não faz toda diferença, além de sempre haver algo para se aprender, provavelmente há outro alguém que se importe que você assista, que se importe apenas pelo fato de alguém se importar e principalmente se este alguém necessita de compaixão nesse momento. Sejamos altruístas como Madonna todos os dias, tal como há um longo inverno dentro de alguns corações, existem Malawis a cada esquina pedindo socorro. Assim como eles, somos nós: I AM BECAUSE WE ARE.

Visite o website, ajude a salvar o Malawi: www.raisingmalawi.org



terça-feira, 21 de junho de 2011

Via de Regra



A tese que não se afasta da humanidade como o fator socializante de todos os indivíduos, não importando a nação, o credo, convicções políticas, com certeza são os signos lingüísticos, a linguagem nos seus aspectos mais diversificados. Que é o homem sem a aptidão inata da comunicação? Animais indignos da relativa racionalidade que promove o progresso e a guerra, que afirma e descaracteriza conceitos, que socializa e discrimina. No entanto, a prerrogativa da racionalidade, da capacidade de pensar o mundo e a própria vida criticamente tem figurado em segundo plano em determinados segmentos da sociedade brasileira, principalmente sobre a geração que domina as redes sociais.

O conhecimento não é uma virtude, não é uma verdade, é uma construção ininterrupta, é um prédio sem cobertura e perpetuamente condenado à incompletude. Ele se sustenta quando possui uma base sólida, se impõe quando seu conteúdo preenche-se gracioso de tudo que lhe confere brilho pleno, legitimidade,  e, aumenta cada vez que preciso for reformá-lo. Para muitas pessoas, basta morar neste prédio de modo tal e qual como se apresenta, seja ele como for, trôpego ou imponente, colorido ou preto e branco, o que vale mesmo é resguardar-se em algum princípio fácil que não necessite ser pensado, pois, alguém anteriormente já descreveu como se equilibraria cada coluna daquela construção. Em uma palavra: comodismo dos que só se expressam  entre aspas. 

Existe uma inércia perigosa habitando esses indivíduos, se são vítimas de um sistema alienante ou responsáveis pela própria marginalização intelectual, não se sabe, contudo, urge resgatá-los. Quando perguntados quem são, ou melhor, quem estão – tendo em vista a transitoriedade da vida que nada nos deixa ser, no entanto, estar – não sabem responder sem recorrer à algum apotegma senil de um filósofo, escritor ou algum artista de relevância particular ou meramente ilustrativa com a finalidade de ostentar certas preferências que sequer valoram. Pergunta-se o que querem eles – outra frustração – , não entendem, não podem expressar o que não sentem porque pensar no futuro é como interromper a assertiva que conduz cada um deles erroneamente a viver cada dia como se fosse o último sem perceber que figuram uma estatística pavorosa de acefalia conveniente.

Mas pensar também é perigoso. Pensar entristece. Pensar não torna o mundo mais infausto, torna o mundo mais real e leia-se ‘realidade relativa’; pois, o mundo é uma idéia haurida nos pensamentos de todos os indivíduos. Todavia não é nos pensamentos que se encerra, tampouco nos prazeres possíveis ou nos alcançáveis, há mais por aqui do que hedonismo pueril, há vida além do eixo que encerra tudo no umbigo de quem melhor convir.

E é preciso não atrofiar as idéias, urge pensar para que não pensem por nós todo o tempo. Urge impregnar a sociedade de todas as tendências que lhe faltam para tornar as mudanças tão desejadas mais palpáveis, mais reais. A criação de universos paralelos ao qual estamos assentados tem duração variável, mas é finita, certa feita que se dissolva, o choque de realidade é imperiosamente inevitável. O Brasil precisa de mais cabeças pensando, o Estado precisa de mais cabeças pensando e as escolas estão vazias por este motivo, mesmo quando cheias vazias estão.

Pensar por si só nada diz, um só a pensar pouco fala, porém se cada indivíduo tentar afastar o que Caio Fernando de Abreu pensou sobre a vida, as noites, os barcos, sobre o que Locke lecionou acerca das qualidades humanas ou sobre o que Freud postulou sobre a homossexualidade, a possibilidade de construir uma sociedade que consegue pensar o espaço onde vive de acordo com a própria cultura, com a convicção legítima e fundamentada ou ao menos reconstruir o conhecimento corrente em favor da coletividade, far-se-iam dias melhores.

O objetivo, por óbvio, não é destruir tudo o que já foi pensando no tempo e na historia, contudo, auspiciar a existência de um povo que consiga pensar a própria realidade por si mesmo, numa perspectiva individual e coletiva. Um povo que pensa é um povo que evolui. Uma idéia por mais inócua que se afigure, pode ter um potencial muito além da ofensividade destrutiva de uma bomba atômica; que, por sua vez, também foi fruto de uma idéia.

Via de regra: o homem é um animal. A racionalidade é facultativa. Escolha. 

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Deôntico


Certa vez estive aqui, frente a essa mesma tela pálida e apática me observando de perto, rindo. Eu ria e conversava com algo que há lá no fundo de todos nós e que cada um pode ouvir do alto de uma ingenuidade infausta. Foi então que me convenci de tudo, acerca do mundo, das coisas, das pessoas, dos amores, enfim. Eliminei tudo. Sabe? Era como arrolar numa folha de papel tudo o que não é cognoscível; e, escarnecer dos herméticos, dos sentimentalóides de plantão que oras sujam meus olhos ao ler as redes sociais e, não obstante, oras sou eu. Ontem me disseram que “é assim mesmo” e ouvi outras coisas no caminho para casa que nada me agradaram. Palavras comezinhas são quase adágios soando como piada nesse tímpano já calejado de tantas charadas vãs. Se você não sabe o que é malabarismo, tente distrair-se por completo e não perder o foco, o brilho, a amplitude intrínseca e única do ser, venha brincar.  Pois que tenho bambeado por aí, cada vez mais, cada vez menos, cada vez quando, mas sem encanto quixotesco além do sonho – esse eu não perdi. Mas não vou me dedurar sem mais rodeios, não vou buscar uma cara nova nos versos preclaros de Pessoa, nem devo me esconder na cumplicidade anônima entre o que há em mim e a voz estridente de Bethânia

Tudo é "dever ser" tudo. 
D
E
Ô
T
I
C
O
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Por Marcos Araújo

sábado, 7 de maio de 2011

As horinhas de descuido.

Liberdade. Eis uma palavra que por si só conduz o homem a imaginar-se como sendo alheio a tudo que sua vontade não contempla. Contudo, esse tipo de liberdade é questionável. Ser livre perpassa os limites do ser, ou seja, as linhas limítrofes da ontologia; pois, antes do ser que pressupõe a parte existe uma denominada coletividade construída na medida das necessidades de outros indivíduos e, para adaptá-los a tudo que lhe é inerente. Forçoso não olvidar que há tempos considera-se a raça humana como apta a socializar em prol de interesses mútuos e difusos, não obsta; que, ainda que seja assim, a liberdade que pertence a um indivíduo só pode manifestar-se gloriosa comedidamente, sem lesar a liberdade de outrem ou afigurar-se tão somente num egocentrismo justificado pela ambição. Surge, por oportuno, o cediço brocardo popular: a liberdade de alguém cessa quando a de outrem começa.

No amor não é diferente, todo e qualquer amante antes de tudo necessita, precisa, deve ser livre. Todo amigo, antes do sentimento fraterno celebrado, enquanto ser humano, também é livre. Existe uma disposição natural no Universo operando nesse sentido, não é uma máxima quixotesca ou intangível por demais, todavia, o ser humano vive em constante conflito consigo e com a parcela de indivíduos que com ele interage. É um meio instrumentalizado pela natureza para celebrar o entendimento entre os homens como fruto da vontade destes, ou seja, da própria liberdade de escolher entre o que ele quer ou não. Não é diferente quando cabe a ele decidir até que ponto pode-se negar que é chegada a hora de lidar com mudanças adversas que ferem o ciclo ordinário de sua vida, desde os seus costumes mais particulares a relações externas de toda nuance de significância.

A felicidade plena é a realização da liberdade. O indivíduo que proporciona a si mesmo um juízo de valor equilibrado a ponto de compreender; que, é alienante considerar-se livre em si mesmo apenas pelo fenômeno da existência, de certo tende a alcançar o cume da experiência humana à medida que amadurece. A liberdade sob este prisma afigura-se destacada parcialmente de quem a domina: doar-se, amar, exercitar o altruísmo, são modos de espargir a liberdade além do ser. Invocando e corroborando o saber sartriano: o homem está condenado a ser livre.  Um adendo, melhor condenação não há do que saber amar a si, a outrem, estar só quando preciso for, saber ouvir na mesma proporção do discurso, estabelecer, ceder, demonstrar, agir, omitir, enfim: saber escolher no cárcere da liberdade o melhor lugar no banho de sol. Quem é livre traz consigo a luz e, quem reflete nas luzes é feliz. 

Por Marcos Araújo

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Passaram por onde moro.

Nem lá, nem cá. É o que diria, ao menos hoje, para me descrever no fim desta quarta-feira. Aos poucos fui dando guarida a um pensamento com o qual optei por escamotear, deixei guardado numa das gavetas menos encontradiças de mim e lá esqueci. Hoje, no entanto, não dá. É apenas como me sinto: nem lá, nem cá. Toda e qualquer perspectiva – diga-se de passagem, que, perspectivas são volúveis por demais, lembrem-me sempre de não me apoiar nelas, são projeções –, foi levada, execrada, destruída, consumida com um tempo que já não pertence ao leito do rio no qual navego, foi-se a luz, instalou-se o caos e a agonia, da gélida escuridão o dia se refez glorioso. Por derradeiro, entretanto, jamais permanentemente é aqui e assim que estou: em lugar nenhum e de forma alguma, transitando entre uma órbita e outra de sentimentalismos.
As necessidades que até então permeavam meus auspícios perderam a cor, pessoas foram perdendo paulatinamente o brio que tanto era do meu agrado conveniente. Tudo o que ficou distante, por lá permaneceu e aqui não estive mais, pois quem saberia onde me encontrar se na melhor das hipóteses em lugar algum me alcanço? Eis a minha mágoa, uma interrogação envolta do diâmetro mais puro de mim, são estas as minhas palavras mais nuas e cruas, qualquer um pode digerir. Meu norte não tem fim, disto eu já sei. Todavia, assim como percebo em outros corpos, em outros gozos, outros abraços, outros laços fortes, quentes e gentis, é o que pleiteio sem querer, sabendo e, deveras contrariado. É por isso que canto, mais tarde escrevo, depois reclamo. Mais e mais. Eu vivo aqui, amo neste lugar: dentro de mim

Por Marcos Araújo

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Enquanto ele dorme.



Ele é que vocifera. Fala por mim. Toma meu corpo e rompe o véu dos meus olhos para tudo que não quero ouvir, encerra em meus lábios tudo o que não devo ver e, meus ouvidos sentem o dissabor dessa balbúrdia. Ele canta, saltita, imita tal e qual figura de mim como jamais reconheceria, ele encanta e embebe-se em mais doses pequeninas do que não me é igual. Não sou eu, ele é quem dita o que é, o que seria, ele é quem escolhe os deleites de encontradiças figuras em noites, em dias e nas formas que molda com seus próprios vícios. Algo em mim engendra à guisa dos ditames dele, totalitariamente em per si, não pelo desejo que sequer me cerca. Trocando em miúdos: ele é desigual, tão desproporcional na medida de sua estupidez lasciva que sequer compreendo. Sequer entendo como tamanha lucidez possa abrigar alguém assim.


-Permaneçam em silêncio,  deixem-no dormir.

Por Marcos Araújo 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Um discurso sobre a Ética, Moral & Direito.


A princípio, como sustenta Aristóteles, encara-se o homem como sendo um ser eminentemente social, gregário, a plenitude de suas ocupações e desejos ocorrem na observância do conjunto, não da unidade. Ainda com lastro na palavra do jusfilósofo, entende-se o alcance do bem comum, afigurado na felicidade, ou seja, uma idéia de origem eudemônica , como a aptidão de cada indivíduo de ser virtuoso. Se os homens são virtuosos de acordo com o seu papel, entende-se que se movimentam positivamente no que atina ao bem comum.

A esse valor mutável, imanente a toda sociedade, que define parâmetros de controle social subjetivamente, tendo a própria sociedade como legitimadora de sua esfera valorativa e permutativa é o valor moral, que, por um turno, pode ser entendido de formas distintas entre os membros do mesmo grupo.

Nesse sentido é que a Ética tende a se confundir com a Moral. Ambas as ordenações tratam-se de albergar conteúdos principiológicos e valorativos, estes, porventura, também se coadunam com os aspectos mais distintos da vida em sociedade. É cediço que a literatura concernente ao assunto diverge, confunde-se e, mesmo assim, não mitiga a proeminência da Ética e da Moral para sermos gregários, tal e qual como preanuncia Aristóteles.

No tocante ao valor elementar da conduta humana é que se engendra o conceito mais sucinto e compreensível da Ética. Sendo assim, o não agir ou o agir do homem está condicionado a um valor Universal, digno de legitimação e celebração mútua para que a sociedade logre êxito na consecução dos múltiplos fins que circundam a experiência humana. Trata-se, poeticamente, de plenitude do quilate da conduta.

Há de ser harmonizar as similitudes da Ética e da Moral neste parágrafo, a ponto de perceber o motivo da impropriedade terminológica envolvida neste caso. A Ética não é a mesma coisa que Moral, no entanto, a ação daquela tem todo alicerce calcado nesta. Ou seja, quando um valor moral, ordinariamente subjetivo, esparge-se por omissão ou ação na esfera social, se faz imperioso o agir ou não agir ético. Em outros termos, a Ética não é, senão, a exteriorização de valores morais consagrados nos produtos axiológicos da conduta humana.

Ainda sem pormenorizar a instituição do Direito cabe abrir precedente para alguns questionamentos válidos. As legitimações de normas dadas à realidade social as tornam morais? O agir ético curva-se para lei ou o contrário? Determinada conduta tida como imoral e, no entanto, legitimada como legal pode ser abarcada pela Ética? São estas, não menos importantes, algumas perguntas ainda estridentes no seio social que circundam a celeuma.


Em nível de construção epistemológica, o Direito assevera seu caráter multifário ante a doutrina. Pois, há diversas concepções acerca dele, de modo que algumas se afiguram hauridas em razão de outras que rechaçam seu conteúdo e vão lapidando a ciência jurídica de acordo com percepções sociais, intelectuais, científicas.  No entanto, em razão dos objetivos dessa dissertação, cumpre entender o Direito como sendo um conjunto de normas atributivas, coercitivas e imperiosas, engendradas pelo Estado com a finalidade da estabilidade social.

Ética e Direito, a saber, necessariamente devem caminhar num mesmo trilho, a fim de galgar fins convergentes, correlatos, pois ambos trazem consigo valores e princípios nortes. Normas lavradas no direito positivo, ou seja, normas jurídicas legitimadas, possuem caráter imperioso e a subversão aos fins que ela determinar pode colimar penas para o contraventor, podendo até mesmo privá-lo da própria liberdade. Normas éticas, por sua vez, legitimamente não possuem este atributo; contudo, necessita fazer-se eficaz, presente.

Um adendo, a ética pode transmutar-se num nível obrigacional tal e qual o Direito goza, isto na expressão da Deontologia Jurídica que tutela a conduta de profissionais, por exemplo.
Na realidade de um Estado Democrático de Direito, faz-se mister e imprescindível a valoração da norma jurídica a partir da Ética, do valor da alteridade imanente para a construção de uma sociedade justa e solidária, como se refere a Constituição Federal de 1988.

Para o Direito assegurar o seu quilate na qualidade de vetor social de evidência notável, precisa, impreterivelmente, de valores éticos circundantes que conduzam os fins últimos da lei e da sociedade em si mesmo.

Uma sociedade que reconhece esses valores tende a prosperidade. No Brasil, todavia, há  muito o que se discutir no que atina ao assunto aludido. As concepções ontológico-nominais e simbólicas que qualificam a CF/88 por si só já estabelece determinada insegurança atinente ao que nós podemos alcançar nos tempos hodiernos, com todos os valores e princípios que nos amparam na letra fria da lei.

Casos recentes, como o do Deputado Federal Jair Bolsonaro, leia-se “legislador”, conduz a sociedade brasileira pensante a questionar os valores de uma nação cujo poder político norteia a Constituição, ao invés do contrário, e a perceber que o valor da igualdade explorado das mais diversas formas nos textos infra e constitucionais são negados publicamente, pela televisão, ao ouvir um deputado desferir agressões violentas a minorias (homossexuais e negros) e políticas sociais (cotas raciais).


Não adstrito a esse caso, eivado de imoralidade, ilegalidade e ausência de ética, que por sua vez são fatores que permeiam a corrupção endógena no nosso país; que, discutir o que é Moral, Direito e Ética, ganha sentido e monta na medida em que o sujeito cognoscente percebe-se nos fatos sociais como vetor e protetor destes valores e princípios. O pensamento conduz o homem às idéias e, no entanto, é na sua devida experiência que se fará a concretização de todo e qualquer valor compreendido.

 Questionam-se, imperiosamente, quais são os valores que ordenam de fato a sobrevivência do povo brasileiro. Não se fala mais no temor a Deus disseminado socialmente outrora, o controle social sob a égide da religião dilui-se num rito permutativo de valores, numa inversão fulminante que atingiu a população em cheiro agravando ainda mais as problemáticas anexas à sociedade. Certo que a religião também funciona como instrumento alienador por indivíduos eivados de má fé; contudo, não se pode negar que os valores morais e humanos que se reproduzem saudavelmente podem conduzir o homem em todos os aspectos de sua vida.

Os tempos hodiernos nos leva a pensar que os valores morais de nossa sociedade estão sendo olvidados, cerceados, oprimidos. Como imaginar o futuro do país nas mãos de uma geração cujos pais perderam a confiança no lar da educação, na casa civilizadora que é a escola? A chacina no Realengo, que permanecerá viva dentro do nosso peito, que frustrará nosso sono, que nos trará mais medo, expugnou o Instituto-Escola. Se para lá não é possível mandar nossas crianças com ânimo volitivo livre de atormentações funestas, o que fazer com elas? Resta o silêncio.

Precisamos agregar valores, revigorá-los, criá-los, fazer dos existentes e inertes, efetivamente tangíveis. O valor moral não se reduz ao repertório de princípios usados somente para julgar outrem em razão de banalidades, crenças; todavia, afeta todo o leque ético condutor da monta axiológica da conduta de cada indivíduo. Uma sociedade devidamente estruturada, ciente da realidade circundante e de todas matizes dela proveniente, pode sim gozar das garantias próprias do nosso Direito, do simbolismo obscuro de nossa Constituição Federal. Não é um ato isolado ou uma razão simplista que tem o poder de modificar uma sociedade, no entanto, não é impossível mudá-la. Precisamos doar nossa atenção e nosso tempo para as razões certas, pois, o que se vê nestas terras e como bem observa Maria Bethânia: “é muita antena e, ninguém antenado”.

POR MARCOS ARAÚJO