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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Não há nada de novo em 2014

Por Marcos Araújo

A trama folhetinesca que envolve a Copa de 2014, a Fifa, Ricardo Teixeira e a construção slow motion dos estádios de futebol que devem receber as calorosas disputas, ganha mais um capítulo tão inédito quanto a exibição de Lagoa Azul, a longa metragem vetusta mais reiterada da sessão da tarde pela Rede Globo. A discussão acerca da cidade que sediaria a Copa é uma questão umbilical à escolha do Brasil para promover o evento, no entanto, para os mais sensatos, não há como pensar na abertura da Copa senão no eixo sul-sudeste, não por atribuir proeminência para a região; contudo, é o que se espera de um país cujas forças políticas agregam cada vez mais o pragmatismo econômico na sua dinâmica social nacional. No mundo capitalista, assim como no Brasil - com uma tônica ao nosso jeitinho - , o indivíduo vale o que tem, quanto mais detém, mais poder agregará; logo, não é surpresa a escolha de São Paulo e do Rio respectivamente para sediar e findar a Copa. 

A descrença que cercava Salvador desde as primeiras especulações e campanhas para que a cidade das 365 igrejas recebesse os jogos da Copa e até mesmo a abertura do evento, é rodeada de problemáticas preexistentes que emergiram nas planilhas da Fifa, mas que já são reconhecidas pela população soteropolitana por muito tempo devido aos transtornos diurnais aos quais está submetida. A baixa qualidade do sistema viário em Salvador macula o exercício das gestões municipais que se sucedem e não reorientam as medidas cabíveis para otimizar o transporte público para a população, problemática está que conduz o homem médio a pensar sistematicamente e inserir-se numa realidade ulterior, num sonho feliz de Copa do Mundo obstacularizada por congestionamentos mastodônticos, a saber, sintomas comuns a outras megalópoles que participarão da Copa. 
A convênio celebrado entre entes privados e públicos revitalizarão o antigo estádio Octávio Mangabeira, todavia os esforços empreendidos para a reconstrução demandarão dispêndio pecuniário deveras representativo, ou seja, o investimento privado aplicado na Estádio refletirá no valor do ingressos; que, provavelmente dissonará com a realidade social dos soteropolitanos. Demais disso, há de se falar na rede hoteleira da cidade, pois apesar de se tratar de uma cidade eminentemente turística, há controvérsias quanto a possibilidade de abarcar um contingente tão maciço de turistas.

Os problemas estruturais de Salvador para receber a Copa do Mundo não é uma celeuma isolada, restrita ao povo soterapolitano; não obstante, são próprios do país inteiro com suas tênues nuances para diferenciá-los. Não é temerário arriscar que o problema da nossa estrutura primordial vai mais fundo, não há estrutura na educação, não há estrutura na saúde, na segurança pública, sequer nossa política goza de alicerces dignos de encômios, o problema é geral, não futuro. Outra verdade que deve ser lembrada exaustivamente é que desde de 1763 formou-se outro Brasil fora do Nordeste, desde que a Capital do país transladou-se para o Rio de Janeiro. Trocando em miúdos, conhece-se o Brasil do Norte-Nordeste, ao que se reserve todo tipo de adjetivo jocoso; o Brasil do samba, do futebol e da cerveja reconhecido no estrangeiro; e, quem sabe, o Brasil oficial da subdivisão, o que vai receber e  dar o desfecho da Copa de 2014 do alto do poderio do Sul-Sudeste, como nos velhos tempos. Não há nada de novo. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O preconceito dos olhos de quem vê.

Por Marcos Araújo

Ama ao próximo como a ti mesmo, assim reza a máxima cristã impregnada pelo cristianismo imanente da cultura ocidental ora celebrada. É o expoente mais tangível da nossa hipocrisia hedionda, da nossa falácia cruel travestida de educação, do nosso esforço pueril em construir verdades, bondades e sorrisos de papel, facilmente alvejados por qualquer gota de chuva, qualquer ventania que reverbere ao público nossa Síndrome de Poliana, nossa esquizofrenia moral, no entanto, Jane Elliot, a saber, com muito destemor, recria essa máxima no documentário “The Eye of the Storm” à luz da bioquice mastodôntica da segregação racial sustentada nos Estados Unidos da América.
Qual diferença você enxerga?
Uma experiência construída na sala de aula, palco do controle social, deu ênfase para o exercício do altruísmo. Crianças da 3ª série eram dividas em grupos de acordo com a cor dos olhos, as crianças de olhos castanhos usariam colares verdes para se distinguirem, o colar representava a sua condição de inferioridade diante das crianças de olhos azuis, elas não poderiam brincar com elas, não dividiriam a merenda, sequer poderiam usar o mesmo bebedouro, do contrário, as crianças de olhos castanhos matariam a sede tão somente num copo de papel. Crianças de olhos azuis não precisavam de colares, representariam espécies superiores, perspicazes, inteligentes, dignos de encômios e livres de riscos.
A tensão psicológica criada na representação de cada criança recriava o cotidiano de um negro, por óbvio, crianças de olhos castanhos experimentariam amargamente dos desdobramentos da segregação e sobre eles fariam juízos de valor, por outro lado, crianças de olhos azuis sabiam que as outras crianças eram absolutamente iguais a elas, mas o colar e a cor dos olhos estabeleciam um critério de diferenciação que não era suficiente para a construção das barreiras sociais ora impostas.
O experimento aplicado nessa turma por Jane Elliot, socióloga e professora, repercutiu sobre os aspectos mais variados de sua vida. Uma sociedade racista não admite confronto, não admite mudanças que afastem o pragmatismo primeiro da superposição das raças, o homem branco americano não queria perder o domínio para o homem negro, tal como o brasileiro ainda persiste na ideia que reconhece um Brasil equânime, despido de discriminação e/ou preconceito, sublinhe-se, o homem brasileiro das elites. Elliot promoveu o confronto com a mesma base epistemológica utilizada por Hitler para definir quais judeus deveriam ser executados na câmara de gás (de preferência os que tinham olhos com cores escuras); todavia, a ideia revestiu-se de modificações salutares e uteis para que se chegasse a conclusões frutíferas.
Jane Elliot, professora e socióloga
Quando o exercício promovido pela socióloga é levado para um workshop gravado livre e espontaneamente por americanos e utilizando das mesmas técnicas, contudo, invertendo as posições das pessoas de olhos castanhos e azuis, sendo que, estas estariam em desvantagem, o resultado resta inequívoco, promove exatamente os mesmos efeitos. As pessoas de olhos azuis são capazes de perceber que o mal que sobre elas se assenta em duas horas e trinta minutos é o simulacro da situação fática que envolve todas as minorias que as cercam por toda a vida, por toda a existência miserável desses seres humanos. É curioso perceber que a omissão de cada uma delas é a própria anuência; e, o primeiro passo para a reafirmação do preconceito, da agressão injustificada, do apartheid social.
As elucubrações de Jane Elliot trazem à baila sua paixão candente pelo homem e sua luta diária para com a justiça, a igualdade e a dignidade de todo ser humano. É um documentário que não se arraiga às amarras do tempo, pois que a diferenciação da raça humana e seus consectários se avultam na história desde os primórdios da humanidade. Não se deixa de assistir The Eye of the Storm, é uma ordem.


Documentário disponível em:   The Eye of the Storm - Legendado - Avi. 

Documentário disponível no YOUTUBE. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Campo minado

Por Marcos Araújo


Após dizer que "comeria Wanessa e seu bebê", Rafinha Bastos foi apresentadoda banca do CQC.
Pode ser um pouquinho de terrorismo, um pouquinho de loucura, um tanto de conspiração, dois terços de apreensão, mas ressalta-se, os tempos atuais revelam para o mundo a era mais temerária para os vocábulos. É como se o vernáculo estivesse sob intensa análise de todo gênero e forma na medida em que as malsinadas conjecturas emanam das argutas preleções dos ferinos críticos contemporâneos, personagens da mídia, da política; e, não considerando essa colação exaustiva, personagens da religião. É preciso tomar cuidado com o que se diz. A frutífera e onipresente discussão acerca do bullying encontrou na globalização sua amplitude reverberada mais definida dos tempos, os crimes de internet avultam as controvérsias quanto ao instrumento dessa ferramenta e predominam nas mesas dos grandes teóricos da ciência jurídica, as redes sociais são palcos inequívocos da expressão da opinião, do protesto acomodado, das campanhas publicitárias galgando públicos vulneráveis, qual seja, um público despido de engajamento intelectual para fins relevantes de fato – digo, uma parcela considerável.


Rita Lee esteve envolvida em diversas polêmicas no twitter, sendo, inclusive, ameaçada de morte.


Os discursos estão cada vez mais genéricos, possivelmente até este sofra desse mal, não se sabe quais limites cuja ultrapassagem constrói homofobia, há quem pugne pelos negros, pretos, ou afrodescendentes, neste caso a nomenclatura que se dá num contexto constrói o criminoso; Bolsonaro goza glorioso da imunidade parlamentar e das prerrogativas que garantem o exercício da sua legislatura, vulgo desserviço; Mayara Petruso (lembra-se dela?) provavelmente ainda quer matar os nordestinos afogados, a saber, num espaço subjetivo visto que tal declaração no Twitter rendeu-lhe dissabores; Rita Lee quer desmerecer o que acha feio; Rafinha Bastos quer brincar de paladino e fazer confusão entre injúria, difamação, propaganda odiosa; os grandes veículos da telecomunicação é o crivo cognitivo do século XXI a filtrar tudo o que você deve/precisa saber, ou seja, por mais que se evite há muita informação permeando o espaço cotidiano.


Ed Motta ofende mulheres e músicos no facebook

A consequência imediata da velocidade da veiculação de tudo que se diz ou faz repercute ou naturalmente deveria repercutir no comportamento social. Um indivíduo comum pode escapar do anonimato por qualquer postagem de um vídeo esdrúxulo lançado no Youtube, da mesma forma que a evidência contra ele pode se impor na forma da sedição, do clamor pela reparação de alguma conduta reprovável. Demais disso, forçoso é sublinhar com vivacidade a grandeza da magnitude da opinião pública; que, não deixa de catalisar a construção da opinião. O que há de fato é uma zona de perigo no campo da opinião, a palavra emitida é como uma mina, a depender da trilha que se escolha tudo pode ir pelos ares de uma só vez sem que haja tempo de arguir defesa. No contexto atual quem turba a ordem social pela força da palavra reclama o caos de Kafka, se torna réu sem contraditório e ampla defesa, vira alvo do palco midiático, vira saco de pancadas.

Não é enfadonho reiterar: É preciso tomar cuidado com o que se diz. A proporção que faz de um comentário despretensioso a manchete mais vendida da semana é a mesma que vocifera a propaganda odiosa de alguém, a injúria, a discriminação, a corrupção, o esbulho; e, que clarividente esteja, os olhos da sociedade são mais cruéis que o açoite.