Liberdade. Eis uma palavra que por si só conduz o homem a imaginar-se como sendo alheio a tudo que sua vontade não contempla. Contudo, esse tipo de liberdade é questionável. Ser livre perpassa os limites do ser, ou seja, as linhas limítrofes da ontologia; pois, antes do ser que pressupõe a parte existe uma denominada coletividade construída na medida das necessidades de outros indivíduos e, para adaptá-los a tudo que lhe é inerente. Forçoso não olvidar que há tempos considera-se a raça humana como apta a socializar em prol de interesses mútuos e difusos, não obsta; que, ainda que seja assim, a liberdade que pertence a um indivíduo só pode manifestar-se gloriosa comedidamente, sem lesar a liberdade de outrem ou afigurar-se tão somente num egocentrismo justificado pela ambição. Surge, por oportuno, o cediço brocardo popular: a liberdade de alguém cessa quando a de outrem começa.
No amor não é diferente, todo e qualquer amante antes de tudo necessita, precisa, deve ser livre. Todo amigo, antes do sentimento fraterno celebrado, enquanto ser humano, também é livre. Existe uma disposição natural no Universo operando nesse sentido, não é uma máxima quixotesca ou intangível por demais, todavia, o ser humano vive em constante conflito consigo e com a parcela de indivíduos que com ele interage. É um meio instrumentalizado pela natureza para celebrar o entendimento entre os homens como fruto da vontade destes, ou seja, da própria liberdade de escolher entre o que ele quer ou não. Não é diferente quando cabe a ele decidir até que ponto pode-se negar que é chegada a hora de lidar com mudanças adversas que ferem o ciclo ordinário de sua vida, desde os seus costumes mais particulares a relações externas de toda nuance de significância.
A felicidade plena é a realização da liberdade. O indivíduo que proporciona a si mesmo um juízo de valor equilibrado a ponto de compreender; que, é alienante considerar-se livre em si mesmo apenas pelo fenômeno da existência, de certo tende a alcançar o cume da experiência humana à medida que amadurece. A liberdade sob este prisma afigura-se destacada parcialmente de quem a domina: doar-se, amar, exercitar o altruísmo, são modos de espargir a liberdade além do ser. Invocando e corroborando o saber sartriano: o homem está condenado a ser livre. Um adendo, melhor condenação não há do que saber amar a si, a outrem, estar só quando preciso for, saber ouvir na mesma proporção do discurso, estabelecer, ceder, demonstrar, agir, omitir, enfim: saber escolher no cárcere da liberdade o melhor lugar no banho de sol. Quem é livre traz consigo a luz e, quem reflete nas luzes é feliz.
Por Marcos Araújo