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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Deôntico


Certa vez estive aqui, frente a essa mesma tela pálida e apática me observando de perto, rindo. Eu ria e conversava com algo que há lá no fundo de todos nós e que cada um pode ouvir do alto de uma ingenuidade infausta. Foi então que me convenci de tudo, acerca do mundo, das coisas, das pessoas, dos amores, enfim. Eliminei tudo. Sabe? Era como arrolar numa folha de papel tudo o que não é cognoscível; e, escarnecer dos herméticos, dos sentimentalóides de plantão que oras sujam meus olhos ao ler as redes sociais e, não obstante, oras sou eu. Ontem me disseram que “é assim mesmo” e ouvi outras coisas no caminho para casa que nada me agradaram. Palavras comezinhas são quase adágios soando como piada nesse tímpano já calejado de tantas charadas vãs. Se você não sabe o que é malabarismo, tente distrair-se por completo e não perder o foco, o brilho, a amplitude intrínseca e única do ser, venha brincar.  Pois que tenho bambeado por aí, cada vez mais, cada vez menos, cada vez quando, mas sem encanto quixotesco além do sonho – esse eu não perdi. Mas não vou me dedurar sem mais rodeios, não vou buscar uma cara nova nos versos preclaros de Pessoa, nem devo me esconder na cumplicidade anônima entre o que há em mim e a voz estridente de Bethânia

Tudo é "dever ser" tudo. 
D
E
Ô
T
I
C
O
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Por Marcos Araújo

sábado, 7 de maio de 2011

As horinhas de descuido.

Liberdade. Eis uma palavra que por si só conduz o homem a imaginar-se como sendo alheio a tudo que sua vontade não contempla. Contudo, esse tipo de liberdade é questionável. Ser livre perpassa os limites do ser, ou seja, as linhas limítrofes da ontologia; pois, antes do ser que pressupõe a parte existe uma denominada coletividade construída na medida das necessidades de outros indivíduos e, para adaptá-los a tudo que lhe é inerente. Forçoso não olvidar que há tempos considera-se a raça humana como apta a socializar em prol de interesses mútuos e difusos, não obsta; que, ainda que seja assim, a liberdade que pertence a um indivíduo só pode manifestar-se gloriosa comedidamente, sem lesar a liberdade de outrem ou afigurar-se tão somente num egocentrismo justificado pela ambição. Surge, por oportuno, o cediço brocardo popular: a liberdade de alguém cessa quando a de outrem começa.

No amor não é diferente, todo e qualquer amante antes de tudo necessita, precisa, deve ser livre. Todo amigo, antes do sentimento fraterno celebrado, enquanto ser humano, também é livre. Existe uma disposição natural no Universo operando nesse sentido, não é uma máxima quixotesca ou intangível por demais, todavia, o ser humano vive em constante conflito consigo e com a parcela de indivíduos que com ele interage. É um meio instrumentalizado pela natureza para celebrar o entendimento entre os homens como fruto da vontade destes, ou seja, da própria liberdade de escolher entre o que ele quer ou não. Não é diferente quando cabe a ele decidir até que ponto pode-se negar que é chegada a hora de lidar com mudanças adversas que ferem o ciclo ordinário de sua vida, desde os seus costumes mais particulares a relações externas de toda nuance de significância.

A felicidade plena é a realização da liberdade. O indivíduo que proporciona a si mesmo um juízo de valor equilibrado a ponto de compreender; que, é alienante considerar-se livre em si mesmo apenas pelo fenômeno da existência, de certo tende a alcançar o cume da experiência humana à medida que amadurece. A liberdade sob este prisma afigura-se destacada parcialmente de quem a domina: doar-se, amar, exercitar o altruísmo, são modos de espargir a liberdade além do ser. Invocando e corroborando o saber sartriano: o homem está condenado a ser livre.  Um adendo, melhor condenação não há do que saber amar a si, a outrem, estar só quando preciso for, saber ouvir na mesma proporção do discurso, estabelecer, ceder, demonstrar, agir, omitir, enfim: saber escolher no cárcere da liberdade o melhor lugar no banho de sol. Quem é livre traz consigo a luz e, quem reflete nas luzes é feliz. 

Por Marcos Araújo