Ao caminhar pelas ruas e ouvir os
inúmeros jingles eleitorais, os panfletos espalhados enxovalhando a Av. Manoel
Dias, os diversos comitês espalhados pela cidade, e já perceber o item negocial
típico das eleições que vincula o mau eleitor ao gestor pernicioso, é que
afasto as últimas dúvidas quanto ao crescente interesse das pessoas em se
ocuparem das atribuições de vereadores, prefeitos, disputando a res pública, ou seja, a coisa pública,
como leões famintos disputariam um pedaço de picanha, melhor, como a população soteropolitana
disputa diariamente um cantinho onde possa se equilibrar no transporte coletivo
que promete perpetuar seu desserviço para a cidade por mais cinquenta anos se
depender das articulações sociais.
Decerto que a participação do
povo nas eleições fomenta a natureza democrática do nosso Estado, que ainda nós
compele a sair às ruas nos dias de eleição, é de se questionar o preparo que a
maioria desses cidadãos possuem para lidar com o patrimônio público, exercer a
função pública em nosso nome, e, portanto nos servir, debruçando-se sobre parte
da autonomia e do poder político conferido a eles através de nosso voto e sob a
proteção da Constituição Federal, a Lei Maior. Poucos candidatos elegíveis não
indicariam preparo ou qualidade, todavia, a multidão destes que se asseveram pode
revelar que a satisfação particular de estar investido em relevante posição
política, social e econômica esta à frente do interesse público, até mesmo
neutralizando a real preocupação em gerir cada vez melhor um contingente urbano
maltratado, mitigado e desiludido.
A criação de uma lei, por
exemplo, envolve articulação política de pessoas que elegemos para editá-las.
Podemos considera-las como fruto de um contrato do corpo social para com o
Estado, e essa é uma concepção moderna, ou imaginar como preleciona Duguit, que
as leis não são senão o reflexo da vontade do legislador dotado de poder para comunicar-lhe
uma função. É o bem comum que precisa ser fomentado, a sociedade precisa da
proteção do Estado que vai da segurança jurídica a segurança pública. O fronteiriço
terreno da resiliência já foi ultrapassado e já não há mais espaço para tanta
verba pública na cueca, para a criação de projetos de lei que jamais poderiam
ser consolidados tão somente para captar votos e mais votos de uma população
aculturada e espezinhada do alto de sua inação. Se política e negócio fossem a
mesma coisa a gramática informaria a ambas ao menos a condição de sinônimos.
Por Marcos Araújo