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segunda-feira, 25 de junho de 2012

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É neste interím incauto que me assombro sempre, na madrugada não há luz que me ilumine, nem passos que libertem minha trilha, tudo se transforma em via crucis, e o fardo é sempre pesado demais sob a cabeça que também é mundo, é fundo de caixa rasgada espezinhando minhas emoções e atirando-as num breu, relento. Lamento que nem todos os tormentos possam sair e vagar alhures, não há tempo aqui, nem em mim, para digerir essa cólera habitual, essa avidez caústica que comunica tudo o que não foi em minha vida, mas se fez pra você em carne, osso e coração. Sobra aqui a saudade que invade essa nefasta hora de não ter vivido o tempo em seu tempo (meu melhor conselho); e a angústia travestida de tudo quanto puder conceber, dizendo saber que o ajuste dos ponteiros não foi mais que mera conveniência. Não foi necessidade, não é questão de aparência, tudo resvala no fato de ter cansado dos “nãos”, e embora não tenha sido vencido, é no manto estrelado  que afaga e penteia a madrugada que habito sem dormir, sem viver, e frequentemente sem me visitar.

domingo, 17 de junho de 2012

oração epistolar



Tu que não respeita nada, nem a pele negra que te guarda: respeita as ayabás, os orixás, a Senhora-Mãe Menininha do Gantois, respeita os caboclos que se espreitam neste quilombo, não faz desfeita do costume que oprimes, respeita meu atabaque e meu terreiro, não me aceita – RESPEITA –, respeita e só. Nosso São Jorge, nosso sangue sagrado, meu suor, respeita a baianidade nagô, e todos os padroeiros da Bahia, respeita que faz bem e ilumina o coração. Não me aceita não, não é assim que me esmero. Entre a dúvida e o vitupério: Respeita.


Por Marcos Araújo

06 de maio


 Pediram-lhe algo pra vestir, e Ele atendeu o moço. Adornou-lhe com um manto distinto, bordado com os fios de um universo paralelo, e se fez no tecido uma força quase coesa, quase bonita, quase reluzente feito ouro, feito prata, feito imitação. Podia ser tudo, conquanto não fosse o que de fato lhe faria regozijar, era um manto de monta aos olhos de quem via, mas em verdade não tinha valor, era demagogia inscrita em forma e matéria travestida de Amor.