É neste interím incauto que me
assombro sempre, na madrugada não há luz que me ilumine, nem passos que
libertem minha trilha, tudo se transforma em via crucis, e o fardo é sempre
pesado demais sob a cabeça que também é mundo, é fundo de caixa rasgada espezinhando
minhas emoções e atirando-as num breu, relento. Lamento que nem todos os
tormentos possam sair e vagar alhures, não há tempo aqui, nem em mim, para
digerir essa cólera habitual, essa avidez caústica que comunica tudo o que não
foi em minha vida, mas se fez pra você em carne, osso e coração. Sobra aqui a
saudade que invade essa nefasta hora de não ter vivido o tempo em seu tempo (meu melhor conselho); e
a angústia travestida de tudo quanto puder conceber, dizendo saber que o ajuste
dos ponteiros não foi mais que mera conveniência. Não foi necessidade, não é
questão de aparência, tudo resvala no fato de ter cansado dos “nãos”, e embora
não tenha sido vencido, é no manto estrelado que afaga e penteia a madrugada que habito sem
dormir, sem viver, e frequentemente sem me visitar.
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segunda-feira, 25 de junho de 2012
domingo, 17 de junho de 2012
oração epistolar
Tu que não respeita nada, nem a pele negra que
te guarda: respeita as ayabás, os orixás, a Senhora-Mãe Menininha do
Gantois, respeita os caboclos que se espreitam neste quilombo, não faz
desfeita do costume que oprimes, respeita meu atabaque e meu terreiro,
não me aceita – RESPEITA –, respeita e só. Nosso São Jorge, nosso sangue
sagrado, meu suor, respeita a baianidade nagô, e todos os padroeiros da
Bahia, respeita que faz bem e ilumina o coração. Não me aceita não, não
é assim que me esmero. Entre a dúvida e o vitupério: Respeita.
Por Marcos Araújo
06 de maio
Pediram-lhe algo pra vestir, e Ele atendeu o moço. Adornou-lhe com um
manto distinto, bordado com os fios de um universo paralelo, e se fez no
tecido uma força quase coesa, quase bonita, quase reluzente feito
ouro, feito prata, feito imitação. Podia ser tudo, conquanto não
fosse o que de fato lhe faria regozijar, era um manto de monta aos olhos
de quem via, mas em verdade não tinha valor, era demagogia inscrita em
forma e matéria travestida de Amor.
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