De madrugada não é hora de
arrumar a casa, nem de lavar a roupa suja acumulada, é tempo de silêncio no
qual o corpo sente a euforia dessa angústia de querer fazer tudo numa só hora. Abro
as janelas, ligo a TV, leio escritos doutra vida em que chorava à toa, sem
saber por que chorava. A vida era boa e olvidei, agora vivo omisso com a luz
apagada e não enxergo a balbúrdia da casa que grita, ulula, e pede com fala
mansa pra reconstruir-se sobre si. Desarrumada que está, ora, pois, pouco me
agrada. Tomba a estrutura deixa ruir
essa essas paredes que sequer me comunicam o lar, deixa que baguncem, deixa
bagunçar e ruir até o final, até tombar, não vou me levantar com a intenção de
fugir, vou ficar aqui sem arrumar a casa. Eis que desaba o teto que acalentou, se
esvaiu o chão que sustentava, e nada restou da bagunça, tampouco dos
esconderijos da casa, nada resta além da lágrima falada.
Por Marcos Araújo