Doutor, é que não tenho trilhos, nem tribo, ando por esse lugar pra
alimentar meu coração, minha arte, para me banhar na líquida fluidez da
vida. Ando a par do tempo e das coisas, vejo tudo, bem atento, nada
passa por mim sem despir primeiro as indumentárias da aparência, do
ardil. Afasto o bom e o injusto, sequestro todos quanto posso abrigar no
avesso do peito. Não tenho dinheiro no bolso, mas jaz
em torno de tudo o que toco a ideia grão, o princípio - é o meu escudo,
guarida erguida para os dias que virão. Veja bem, doutor, tudo em vida é
encontro e despedida feito aquela canção, e quantos aos outros, aos
mesmos, aos “nós”, eternizo a voz doutro amigo: não se deve aliciar o
pranto pra quem já houvera partido.
Por Marcos Araújo