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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Mande dizer que eu saí.


Se existem mais de seis bilhões de pessoas no planeta Terra e nós necessitamos de uma para viver, para ser a outra unidade do par de sapatos, do pé da meia, da banda simétrica de laranja, então presumo que devo ter desertado no espaço, vagava por aí buscando minha origem e caí aqui por acaso, pois que, essa filosofia de salão de beleza não preenche meus olhos, não constitui uma idéia digna de ser adotada nessa realidade que não diria ser só minha.Sufoca-me viver cercado destes novos românticos, mitomaníacos, os romeus afetados do século XXI, as Julietas feministas e caçadoras de Amélias. As meninas e meninos que esperavam um alasão e príncipes encantados aparecendo entre os arranha-céus, amontoaram-se tristonhos nos seus quartos (a própria torre de marfim); os homens do alto do machismo tão bem ensinado pelas mães nas lições irrevogáveis de virilidade, aguardam suas futuras esposas virgens, permissíveis e submissas.Eu não conheço mais esse mundo.

Viver com alguém se tornou uma obrigação, não compete mais a vontade própria, tem se tornado questão de opinião pública, essa não é uma idéia nova, sempre foi vendida, desde sempre os livros, os quadros, as músicas, o teatro, falam do amor romântico como algo inerente a vida em medidas hiperbólicas, ultrapassando até mesmo limites temporais, não conheci a história de nenhum ser humano que amou alguém ou tantas outras pessoas por toda a vida, sem aquela pausa para repensar conceitos e ou preconceitos. Se essa idéia, ou norma social instituída pelo costume, tem sido amplamente adotada, associo essa linha de raciocínio ao desinteresse por outros fatores presentes e determinantes em nossa vida, como os estudos, sendo este um exemplo de força notável. Caro leitor, não duvido que conheça alguém que já abdicou e ou tem abdicado do investimento em si próprio para delegar o dever de ser feliz e bem sucedido na imagem de outrem, isso é inconseqüência.

" O certo é o que é bom para mim. E sei que todos deveriam viver assim; não viver como eu, mas viver da melhor forma possível - para eles e não para a sociedade."

Os novos psicólogos surgem de todos os cantos, são os amigos, vizinhos, conhecidos, mas a internet parece instrumentalizar as práticas de carência dessas pessoas da forma mais pública possível, quanto maior o drama, quanto maior for à necessidade de achar a sandália velha para um pé já adoecido, por conseguinte, maior é a visibilidade desse sofrimento atroz, dessa solidão maldita própria do século XXI e tão bem ampliada pelos que dizem sofrer suas mazelas.São atores, tantas vezes pessoas imersas num mar de hipocrisia e promiscuidade justificada com a procura do amor verdadeiro, se todos somos livres e iguais, condicionados a respeitar mores, folkways e regulamentos jurídicos, temos direito de nos relacionar com quem for conveniente, é verdade, mas nossos amigos, vizinhos e conhecidos, àqueles que fazemos de psicólogos informais constantemente, não têm obrigação de lidar com os problemas que a gente cria, alimenta e entrega para eles pensarem e solucionarem, não existe o que cobrar nessa relação; não obstante, bom senso faz bem numa má hora destas.


Tenho corrido dos discursos de fracasso emocional, dos namorados e namoradas semanais que estão sempre atualizando os dados do seu banco de currículos afetivos, das lágrimas falaciosas de alguns chegados, eu corro, corro e cada vez que chego adiante, cada vez que dobro uma esquina, encontro mais um deles jogado pelos cantos choramingando a ausência de outra pessoa ali do lado dando um sentido para suas vidas insossas, digo que são um bando de chatos e se eu disser qualquer dia para um deles que estou infeliz também, é para maquiar o tamanho da minha satisfação e felicidade na cama, no jogo e no amor, não pensem mal, pois essa é a minha profilaxia contra esse baixo astral generalizado, vai que isso pega?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Não se resumiu aos dois.


Por Marcos Araújo

Ela se espalhava sobre seus lençóis, cheirava a coisa suja, moça cheia de enésimas intenções, ali entre seus cabelos avermelhados e o sorriso de menina escamoteando hábitos lascivos, convidava-o para seu grande terror, ela o escondia em teu coração sinistro que quase sempre palpitava entre as pernas. O vento chacoalhava violentamente as janelas do cubículo, ali havia uma cama, um tapete esquálido embolado ao lado da porta principal; ou melhor, não havia outra.Era um espaço quente como o inferno, ele conhecia a sensação de estar morto, desde pirralho não faltara às aulas de religião, mas sabia tão bem quanto ela que não havia um bom lugar no juízo final para os dois, Deus não encerraria uma contradição tão esdrúxula.


Lembrara da esposa, da primeira cantiga de sua pequena filha que permeava sua cabeça vazia naquele tempo, a menina tocava-o sem tocar, era àquele sorriso garantido todas as noites que sustentava uma partícula de felicidade naquela vida modorrenta, pois, não havia muita honra em seu trabalho informal, sua família havia partido para o Sul e provavelmente já preencheriam alguma cova rasa, isso se não lograram uma boa sorte e esqueceram os que permaneceram nesta terra maldita. Ali, parado ante a dama do seu luxo possível, ele despia-se das desgraças que o acompanharam até então, adentrou no espaço como um foguete indômito, desgovernado, e o suor descia da altura do tronco aos dedos dos pés, esquecera de tudo que o fez homem digno e honrado, e matava-o em cada movimento violento, indiscreto, no corredor estreito do lado de fora nenhum ruído era novidade. A mulher pestilenta contorcia-se na cama e tentara pronunciar algumas imundices até ser compendiada a gemidos tão legítimos quanto à palavra daquele homem; juntos, era como se estivéssemos somando às desgraças de cada um deles; contudo, sem soluções possíveis, sem resposta exata estilo “2+2”.



Seria leviandade imaginar que ela era sádica ao ponto de encarniçar sua índole por alguns míseros trocados de gente que costumava ser muito mais miserável do que todas àquelas meretrizes num quarto só, aos 15 anos viu sua mãe perecer às moscas num hospitalzinho do município, aberta em chagas, ninguém soube explicar o que de fato havia provocado sua morte, vê-la desaparecer no jorrar contínuo das lágrimas discretas, naquele rostinho miúdo e enrugado, despertou medo. Medo de permanecer no mesmo lugarejo e acabar da mesma forma, nessa existência tácita e ao mesmo passo, tão ignorada, ela não agüentava mais esperar o dia em que partiria para o Rio de Janeiro com o que conseguiu e então driblar o sopro gélido da morte que tão cedo levara a única pessoa que já a amou plenamente.


O homem via a noite como quem se admira no espelho, àquele era seu melhor ângulo, a escuridão era também o reflexo dos seus dias, dormia, acordava, trabalhava, havia uma engrenagem no lugar da coluna vertebral, era necessariamente mecânico, suas mãos cada vez mais calejadas, e o céu cobria sua cabeça quase desabando. Ainda havia humanidade naquele peito; contudo, certos pleitos cegavam-lhe os olhos, então seu corpo se guiava no escuro tatuando no tempo um conflito hedônico, predileção da sua cabeça, mas não estava inventando nada, sua vida era mesmo desgraçada. Partiria sua alma em dois pedaços bater a porta de casa e nada ter sobre a mesa para alimentar sua pequenina, não era surpreendente não pensar na mulher nesse caso, de qualquer sorte, se tudo era destino escrito, imutável, irrevogável, se não havia Rio de Janeiro em seu mundo, válvula de escape,oras, deixem esse homem gozar em paz!Não há mais nada que alguém possa fazer por ele, apenas deixem-no.



quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Maurício Zerk - Agosto

"As cores vivas, a escuridão as esconde, lucidez e razão, se dispersam, clamando pelo inconsciente, imagens surgem ao acaso, presságios e lembranças se confundem. A perfeição só se vai com a chegada, da luz de um novo amanhã." (Zerk)
Por Elenilson Nascimento
Enfim, hoje é o lançamento oficial do CD do Maurício Zerk. O artista, que se considera um autodidata, que gravou a primeira demo em 2004 com a banda Via Dupla, que já participou de vários festivais de música, e que também já fez parte também dos grupos Fluxo Visceral, Conexão Urbana e da banda de rock UT Supra, além de participar do livro “Poemas de Mil Compassos” (2009), acaba de lançar o álbum “Agosto”. O disco já está disponível para audição na internet, onde Zerk deixa aos fãs a oportunidade de conhecer todas as faixas antes do lançamento em formato físico, programado para breve.
Depois de meses trabalhando nesse projeto, Zerk, enfim, lança de forma independente, esse seu primeiro álbum de carreira, depois de ter lançado vários singles na rede. “Agosto” é o projeto do cantor, músico, poeta, arranjador e compositor em que este último rótulo não pode ser aplicado assim de forma isolada. Zerk pisa em território muito conhecido por seus fãs, mas nem por isso menos desafiador. “Estou solto no mundo largo. Lúcido cavalo com substância de anjo que circula através de mim. Sou varado pela noite, atravesso os lagos frios, absorvo epopéia e carne, bebo tudo, desfaço tudo, torno a criar, a esquecer-me: durmo agora, recomeço ontem”, escreveu em seu blog.
O disco abre com o melancólico-instrumental “Bob”, em seguida entra nos “desejos que se foram em você” de “Janeiro”, surge até sons de chuva em “Certos Planos”, violinos sonoros com batidas fortes de baterias em “Tudo Igual” (linda essa música!). Mas, se você pensa que acabou, o disco continua pulsando como sexo em “Bom Pra Você” (lembra muito Evanescence), na canção “No Caminho” que fala de perdas, carinhos e esperas, na forte “O Que Importa”.
E as baterias voltam a bater na faixa título “Agosto”, e na música que eu achei mais autobiográfica de todo o disco “Mais Um Dia”, adorável! E, enfim, o meu poema chega de mansinho, lindo e gritante em “Uma Visão Contemporânea”. Nem vou falar mais sobre o que o Zerk fez com ele, pois vão dizer que eu paguei. Mas ficou perfeito! Em “Olha Só” ele revela que não sabe dizer nada, mas ainda tem tempo de contemplar o dia. Mas o bônus track não poderia ter sido melhor: uma versão maravilhosa de “Ray Of Light” (eu amo essa música) de Madonna. Ficou fodaço!
O projeto demorou a sair pela dificuldade de tempo, equipamento e de compor compulsoriamente – compor para o artista como Zerk parece ser uma necessidade física – mas o resultado superou todas as expectativas. Recentemente, Zerk lançou também o single “Eu Queria Ser John Lennon” clique aqui – que traz, com muito orgulho, na canção título desse trabalho um outro poema meu retirado do livro “Palavras Faladas Fadadas Palavras” (2002). Já esse novo álbum “Agosto” surge com doze faixas muito bem arranjadas e numa levada pop incrível. Por tanto, o cara tem talento. Pena que esse talento AINDA não esteja tocando nas rádios, mas, enfim, o cara não faz pagodes ordinários. Baixe o disco, confira e devore-o! É gostoso! 
Disponível em :http://poemasdemilcompassos.blogspot.com/ 
21 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Brasil : Ame-o ou deixe-o

"Se você é um daqueles que vive na ilusão de liberdade de expressão e privacidade no espaço social virtual, confira abaixo a circunstância lamentável que tem afetado o blog Literatura Clandestina, dirigido por Elenilson Nascimento, o conteúdo polêmico e subversivo do website não agrada aqueles que não são muito íntimos de verdades, visite, reaja, haja vista que todos nós estamos susceptíveis de ter nossas opiniões castradas e aqui pra nós, desconheço esse tal regime democrático que dizem nos pertencer".
Marcos Araújo
  Por Elenilson Nascimento
Para quem está estranhando que não estavamos atualizando os nossos blogs, saiba que está rolando na rede bloqueios de blogs e sites de notícia e cultura e, consequentemente, o LC também foi censurado. E essa não foi a primeira vez. Em março último, de forma arbitrária, o meu outro blog “Playlist'M” foi retirado do ar. Fui “comunicado” (*depois de o blog ter sido deletado) que o Blogger foi “forçado” a remover o blog. E só. E o Play foi excluido com o argumento (ou sem ele) mais imbecil do mundo – clique aqui e leia o meu manifesto de repudio.
Contudo, desde o último sábado, 09/10, eu não conseguia atualizar mais nada, nem entrar no painel de controle dos meus blogs. Mandei inúmeros e-mails para a administração do Blogger e até agora não recebi nenhuma resposta. Os últimos posts que entraram já estavam programados. E pelo visto voltamos à ditadura!
Recentemente, uma proposta que foi apresentada no Congresso, no mês de abril deste ano, que tem como objetivo cercear a liberdade de expressão no Brasil através de blogs, umas das poucas fontes de informação que ainda não controladas pelo Estado.
Se você mantém um blog ou simplesmente se importa com a sua liberdade de expressão e com a defesa e garantia de liberdades individuais e coletivas informe-se e faça algo a respeito antes que todos tenhamos que testemunhar o nascimento de uma nova e poderosa CENSURA.
Mas, felizmente, graças aos meus poucos conhecimentos de internet, algumas leituras em sites na rede e também ao meu amigo Jefferson B (*um hacker brasileiro louco que reside no Japão), consegui entrar no painel de controle do LC e postar os posts que já estavão atrasados. Mas tenham um pouco mais de paciência, pois os comentários não vão poder ser aprovados. De toda forma, movam-se e divulguem isso! Abaixo a ditadura na rede!
>>>Aproveite e leia esse texto aqui no blog do ator Tony Ramos, sobre este ofensivo projeto de lei, que não só inclui blogs, mas também fóruns e mecanismos similares de publicação na internet.
imagens: LC/divulgação

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

"Diz que deu, diz que dá, diz que Deus dará"



Ei, pense rápido, em qual Brasil você habita?Digo-lhe, o meu não lê, as famílias quase em sua totalidade entronizam o controle remoto e as redes sociais da internet (mais comuns aos jovens), ao invés de legitimar um hábito tão construtivo que caracteriza a leitura. Costumo aludir que essa circunstância não é inata, não nasceu com “A” ou “B”, pendendo da etnia, classe social, credo, estas são variáveis de relevância até certo ponto; todavia, é a educação doméstica que possui a função mister e diretiva.A classe média e a classe média alta, são estratificações sociais cujos componentes tendem a reconhecer a importância da educação na formação da cidadania, o enviesamento desta máxima nota-se na classe baixa, por vezes faltam recursos e sobra  interesse, em outros casos à falta de informação e à resignação de uma vida miserável e pestilenta, mitiga os valores advindos da formação educacional.
Certamente os leitores já ouviram que a escola pública já funcionou, alguns podem até ter vivido essa época, mas o que a difere do ensino público atual?Antes de tudo, devo dizer que existia um teste denominado “Exame de Admissão ao ginásio” que se interpunha entre a escola primária e o ginásio, era uma espécie de vestibular temido pelos pais e pelos alunos, que geralmente tinham de 10 a 13 anos, os que não lograssem êxito teriam de retornar à escola primária por mais um ano, note-se que essa medida não era bem vista pelo corpo docente das instituições, assim como as Universidades particulares que conhecemos, às instituições de ensino privado facilitavam o exame de admissão em troca de gordas mensalidades. Agora vamos fazer uma rápida abstração, caro leitor; dois ingleses desembarcam nas Treze Colônias e ambos disputarão uma corrida para alcançar o melhor lote de terra visível, um deles montado num alazão corpulento, sagaz, o outro se sustentando duvidosamente sobre um cavalo magro, cansado e arrastando uma carroça velha, pela luz da lógica e do bom senso quem chegaria primeiro?Portanto, não se faz necessário ditar com todas as letras quem chegava à sala de aula do colégio público.

Eis que quando o Exame de Admissão ao Ginásio acabou, o povo celebrava a festa democrática do país, leia-se “pobres”. A classe dominante majoritariamente esgueirava-se sobre os próprios calcanhares e migrava para as instituições privadas, bem sabemos que nas sociedades onde o status e os papéis são demasiadamente distintos por razões sócio-econômicas, culturais; não há mistura, não há meio termo, do contrário, existe um Muro de Berlin em cada espaço social, de um lado o joio, noutro o trigo.Contraditório, assim eu avalio, mas se a porta das escolas estavam abertas para todos, ela nunca havia encontrado-se tão vazia, o agregado social intelectualizado e educado para questionar as mazelas do sistema governamental havia se dissipado, finalmente os governantes e magnatas brasileiros inferiram que essa nova escola de comuna, ao alcance de todos, não serviria mais aos propósitos delineados por eles.Desde então, assistimos a decadência que avança em progressão geométrica no ensino público do país, os governantes, ministros, diretores, professores etc. gozam da fartura da máquina pública(considere os nuances hierárquicos) e forjam o nascimento de milhões de formandos por ano, desprovidos de valores políticos, didáticos, intelectuais(segue uma lista infindável).Em todos os períodos de eleição as propostas e controvérsias quanto à educação, reviram o cenário hostil dos debates políticos; contudo, não chegam às salas de aula e ainda que cheguem, não são adotadas.Nossos jovens foram adestrados, eles não ligam se os Maias têm razão quanto a 2012, não conhecem o que faz cada parlamentar na sociedade,não sabem seus direitos, eles apenas não ligam, são devidamente produzidos para não ligar. 


"É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade"
Emmanuel Kant


Essa geração, que deu origem a outra e mais outra, cada vez mais cedo, diga-se de passagem, é a mesma que tantas vezes despreza a leitura, o conhecimento.Há os que tentam usar às poucas ferramentas que dispõem na intenção de modificar suas respectivas realidades desalentadoras, dentre eles, há os que fingem compartilhar do mesmo objetivo, são os estudantes que encontramos todo o tempo do lado de fora dos portões, para estes a melhor aula não é do professor mais conceituado, responsável e fiel aos seus princípios; é a aula vaga.Deles há  um voto garantido dos candidatos lazarentos, ignominiosos, contraditórios; àqueles que pulam de partido em partido procurando qual se adequa com mais consonância à seus interesses particulares.
Acredito que Monteiro Lobato deve se debater em seu leito de morte freneticamente, se ele via um país construindo-se com “homens e livros”, tudo o que temos são marionetes vendadas em fila indiana, todas guiadas para a câmara de gás construída por elas mesmas, esta não precisa de senha, ao contrário dos hospitais, ali há vaga para todo mundo.

sábado, 2 de outubro de 2010

Vida de gado, povo marcado, povo feliz (sic)

Amanhã é dia de votar – vote consciente – tentei me convencer dessa possibilidade ante o espelho, por algum motivo não foi possível a chegar a conclusões tão animadoras, mas cada um deve ter feito essa inferência visto que estamos compartilhando a mesma injeção letal política de mãos dadas, mas com os olhos voltados apenas para nosso umbigo. Talvez minhas dúvidas hoje sejam tão comuns quanto a todas as eleições anteriores e ou que virão; contudo, o horário nobre acentua as mazelas de seus matizes ignominiosos com as propagandas eleitorais; os escândalos atentando não só contra candidaturas, mas contra a família brasileira e nessas horas eu me pergunto onde ela se encaixa na letra e melodia do nosso Hino Nacional, majestosa construção utópica, idealista, digna de outro país que não se compare a esse; vejo a volubilidade atroz que acomete as alianças, ora fabricadas, ora desconstituídas e o povo se balança no meio desse mal súbito ao som do axé, enquanto a elite brasileira regozija-se na bossa com um belo vinho italiano e sorri para o fotógrafo, ensejando uma aparição em alguma coluna social no dia seguinte – que contradição mais descabida – social nesse (a) caso é o mais puro e requintado tipo de humor negro que existe.
Não esperem que o salário suba para seiscentos reais, dois mil, ou se assim pensarem, aguarde o terror iminente da inflação; não acredite que a reforma agrária logo agora atinja um espectro inimaginável como num passe de mágica, seria um efeito especial digno de Hollywood; nada será como foi, desde que o mundo é mundo nas condições mais desfavoráveis de vida é no curso das mudanças que as circunstâncias se definem, note-se a partir disso a importância de pôr as impassibilidades em dúvida, seu mundo não vai mudar amanhã (pois há quem acredite), inclui-se nele o transporte público, a saúde, a segurança da sociedade civil, a educação e por falar nela, foi sobre essa base que a Coréia do Norte salvou-se do caos, educar é gerar uma sociedade mais esclarecida, capaz de pensar por si só sem manter o ciclo vicioso condicionando rebanhos de gente e se são rebanhos, automaticamente perde-se o propósito de ser humano, racional, pois o animal não reconhece a linguagem, assimila apenas os índices, ele preserva sua espécie como a si mesmo através de defesas peculiares e mecanismos comuns de sobrevivência, como formigas que carregam folhas muito mais pesadas que o seu corpo com o escopo de permanecerem vivas durante o inverno.Há quem viva no alto da ignorância e comodidade, ostentando suas "bolsas x-tudo" de miséria, que por sua vez é o pão, circo e ópio do povo.
Amanhã, acorde certo do que pretende fazer pelo futuro do seu país, pelo menos em tese, não vote nos fichas sujas, não venda o seu direito de ser cidadão em troca de favores, o bem comum que tanto é mitigado por quem tem poder precisa ascender em nossa sociedade, daí quem sabe as pessoas quebrem seus rituais de resignação social e saíam do coma contra todo e qualquer assunto que exija senso crítico.Se você, caro leitor, não vê necessidade de pensar nessas questões pelo fato da política ser “chata, suja e desinteressante”, acredite em mim, quem escondeu dinheiro na cueca ou sonegou impostos pago por você ou por seus pais, não pensa dessa forma, aliás, quem criou essa ideologia tão grotesca sabia bem o que estava fazendo e qual seria o feedback.