Seguidores

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A sétima carta

Por Marcos Araújo


Partira cedo para o outro lado do país, já era acostumada a transitar de um lado para outro como um andarilho faria, não se habituava, não se fixava, não amava a raiz do lugar ou a outrem até chegar aqui. Era carrancuda e eu já era problematizado, por mim e pelos outros, mas não havia medo ao conhecê-la, pra mim era como pedra bruta, caixa de pandora que ninguém disse se deveria/poderia abrir ou não, o fato é que me arrisquei, quis entender a rebeldia inócua daquela garota e não sei se havia intenção de réplica, o fato é que não me arrependi. Mais tarde, brigando, rindo, sentindo, conversando, o mundo nos conectou numa sintonia sem igual, ela é como a minha metade metafísica, feminina, o seu entendimento acerca de quem somos é meu também, costumo pensar no nosso amor como uma linda oração que me acalma, liberta e acalenta. Ela é como outro eu a se aperfeiçoar, cheia de demônios para destruir, permeada de perguntas sem respostas e ela me questiona como uma folha em branco ávida por poesia – ademais, assim a enxergo, ela é minha métrica, minha rima, minha menina. Cada conversinha madrugada afora enquanto o tempo corria, cada horinha de descuido na qual o poeta achou felicidade, os dias de sol e mar ao lado dela, as férias, os dias de chuva e turbação, nosso primeiro perdão, nossa aliança, nosso amor verdadeiro, tudo escrito no meu peito feito equação de primeiro grau: fácil, breve, simples.A distância não vai me permitir chorar outra vez ao vê-la partir, pois que há mais amor aqui do que qualquer medida espacial contida nesse mundo. Meu trópico, meu pólo, meu céu e luar são iguais aos seus, voa e traz mais felicidade, vai buscar o que é teu, traz em si o que é meu, Maria


Para minha fidelíssima amiga, meus votos mais sinceros de felicidade e sucesso, ilumine seu novo caminho. 





segunda-feira, 18 de julho de 2011

I Am Because We Are

Por Marcos Araújo

I AM BECAUSE WE ARE é filosofia, poesia triste, é a idéia que agrega o homem num todo irrepartível, ele existe, pois há no mundo tantos outros como ele, iguais a ele, sob a sua guarda, serventia, necessitando de sua ajuda – o homem é (existe) porque os outros também são. O documentário produzido por Madonna e dirigido por Nathan Rissman, lançado em abril de 2008 no 7º Festival de Cinema de Tribeca, é uma leitura crua do Malawi, país africano considerado mais pobre do mundo de acordo com dados do FMI de 2005.



Pensar na África ordinariamente recria um cenário repleto de miséria, é o que se disseminou culturalmente em boa parte do planeta, apesar de ser temerário sustentá-lo. Contudo, o Malawi não foge a essa regra, é um país rural, devastado por uma inércia política hedionda, pela ausência de liderança, progresso, um país de fome, órfãos, e devastado por doenças como tuberculose, malária, cólera e AIDS. Dos mais de doze milhões de habitantes, aproximadamente um milhão são órfãos, meninos e meninas descamisados, iletrados, grande parte portadores do vírus do HIV; que muitas vezes assumem a frente de um lar sendo a maior referência que seus irmãos e irmãs podem ter. Essas crianças são o Malawi de amanhã, ao menos as que sobreviverem, uma geração decrépita e carente de valores.

Os olhos custam a acreditar no que se projeta na tela, histórias e mais histórias de um povo massacrado pelas circunstâncias, funciona como um grito de alerta para que o homem perceba que a miséria não é um problema do Malawi ou da África em si mesma; no entanto, uma mácula ínsita de toda a humanidade. Qualquer homem médio é capaz de perceber a amplitude da desgraça deste povo a qualquer distância que seja, o problema se esparge, rouba lágrimas, aperta o coração mais do que a própria fome daquela gente que é tão nossa, gente que se parece tal e qual como nossos pais e todos aqueles que sabemos amar.

O ativismo de Madonna, produtora do documentário e mentora da Raising Malawi, uma organização de caridade, demonstra o seu crescimento enquanto ser humano. Ela declara não ter escolhido o Malawi, pelo contrário, o Malawi a escolheu, e o que transparece para qualquer telespectador de bom senso é o comprometimento e a humanidade com que ela se adequa diante de tantas desgraças. Durante a produção do documentário e  adoção de David Banda, criança adotada por Madonna naquele país, a imprensa marrom não poupou esforços para cercear as suas ações, tentando transformar todo o trabalho desenvolvido por ela numa forma de se promover.



Cada minuto de I Am Because We Are é fruto do amor, da dedicação e entendimento de uma mulher que entende  a desimportância de sermos sul americanos, europeus, africanos, asiáticos etc. É o produto da compreensão da humanidade como unidade, não como parte de um todo atomizado. I Am Because We Are é também fruto do esforço de uma grande equipe engajada em vociferar para todo o planeta que o Malawi precisa de ajuda; e, não menos importante, é um meio de nos retirar de uma zona de conforto particular para perceber um mundo ao redor que se estende além de perspectivas particulares, o palco do mundo é o nosso Universo mais próximo – é a legítima humanidade.

Madonna e seu filho adotivo, David Banda.
Assistir esse documentário ou não faz toda diferença, além de sempre haver algo para se aprender, provavelmente há outro alguém que se importe que você assista, que se importe apenas pelo fato de alguém se importar e principalmente se este alguém necessita de compaixão nesse momento. Sejamos altruístas como Madonna todos os dias, tal como há um longo inverno dentro de alguns corações, existem Malawis a cada esquina pedindo socorro. Assim como eles, somos nós: I AM BECAUSE WE ARE.

Visite o website, ajude a salvar o Malawi: www.raisingmalawi.org