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terça-feira, 21 de junho de 2011

Via de Regra



A tese que não se afasta da humanidade como o fator socializante de todos os indivíduos, não importando a nação, o credo, convicções políticas, com certeza são os signos lingüísticos, a linguagem nos seus aspectos mais diversificados. Que é o homem sem a aptidão inata da comunicação? Animais indignos da relativa racionalidade que promove o progresso e a guerra, que afirma e descaracteriza conceitos, que socializa e discrimina. No entanto, a prerrogativa da racionalidade, da capacidade de pensar o mundo e a própria vida criticamente tem figurado em segundo plano em determinados segmentos da sociedade brasileira, principalmente sobre a geração que domina as redes sociais.

O conhecimento não é uma virtude, não é uma verdade, é uma construção ininterrupta, é um prédio sem cobertura e perpetuamente condenado à incompletude. Ele se sustenta quando possui uma base sólida, se impõe quando seu conteúdo preenche-se gracioso de tudo que lhe confere brilho pleno, legitimidade,  e, aumenta cada vez que preciso for reformá-lo. Para muitas pessoas, basta morar neste prédio de modo tal e qual como se apresenta, seja ele como for, trôpego ou imponente, colorido ou preto e branco, o que vale mesmo é resguardar-se em algum princípio fácil que não necessite ser pensado, pois, alguém anteriormente já descreveu como se equilibraria cada coluna daquela construção. Em uma palavra: comodismo dos que só se expressam  entre aspas. 

Existe uma inércia perigosa habitando esses indivíduos, se são vítimas de um sistema alienante ou responsáveis pela própria marginalização intelectual, não se sabe, contudo, urge resgatá-los. Quando perguntados quem são, ou melhor, quem estão – tendo em vista a transitoriedade da vida que nada nos deixa ser, no entanto, estar – não sabem responder sem recorrer à algum apotegma senil de um filósofo, escritor ou algum artista de relevância particular ou meramente ilustrativa com a finalidade de ostentar certas preferências que sequer valoram. Pergunta-se o que querem eles – outra frustração – , não entendem, não podem expressar o que não sentem porque pensar no futuro é como interromper a assertiva que conduz cada um deles erroneamente a viver cada dia como se fosse o último sem perceber que figuram uma estatística pavorosa de acefalia conveniente.

Mas pensar também é perigoso. Pensar entristece. Pensar não torna o mundo mais infausto, torna o mundo mais real e leia-se ‘realidade relativa’; pois, o mundo é uma idéia haurida nos pensamentos de todos os indivíduos. Todavia não é nos pensamentos que se encerra, tampouco nos prazeres possíveis ou nos alcançáveis, há mais por aqui do que hedonismo pueril, há vida além do eixo que encerra tudo no umbigo de quem melhor convir.

E é preciso não atrofiar as idéias, urge pensar para que não pensem por nós todo o tempo. Urge impregnar a sociedade de todas as tendências que lhe faltam para tornar as mudanças tão desejadas mais palpáveis, mais reais. A criação de universos paralelos ao qual estamos assentados tem duração variável, mas é finita, certa feita que se dissolva, o choque de realidade é imperiosamente inevitável. O Brasil precisa de mais cabeças pensando, o Estado precisa de mais cabeças pensando e as escolas estão vazias por este motivo, mesmo quando cheias vazias estão.

Pensar por si só nada diz, um só a pensar pouco fala, porém se cada indivíduo tentar afastar o que Caio Fernando de Abreu pensou sobre a vida, as noites, os barcos, sobre o que Locke lecionou acerca das qualidades humanas ou sobre o que Freud postulou sobre a homossexualidade, a possibilidade de construir uma sociedade que consegue pensar o espaço onde vive de acordo com a própria cultura, com a convicção legítima e fundamentada ou ao menos reconstruir o conhecimento corrente em favor da coletividade, far-se-iam dias melhores.

O objetivo, por óbvio, não é destruir tudo o que já foi pensando no tempo e na historia, contudo, auspiciar a existência de um povo que consiga pensar a própria realidade por si mesmo, numa perspectiva individual e coletiva. Um povo que pensa é um povo que evolui. Uma idéia por mais inócua que se afigure, pode ter um potencial muito além da ofensividade destrutiva de uma bomba atômica; que, por sua vez, também foi fruto de uma idéia.

Via de regra: o homem é um animal. A racionalidade é facultativa. Escolha. 

6 comentários:

  1. nossa que texto inteligente.
    muita coisa boa em 1 só texto.
    adorei

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  2. Mostrou muita sabedoria com o texto
    ta de parabéns viiu'?
    ^^
    http://cantinhocomtudo.blogspot.com/

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  3. "O conhecimento não é uma virtude, não é uma verdade, é uma construção ininterrupta, é um prédio sem cobertura e perpetuamente condenado à incompletude. Ele se sustenta quando possui uma base sólida, se impõe quando seu conteúdo preenche-se gracioso de tudo que lhe confere brilho pleno, legitimidade, e, aumenta cada vez que preciso for reformá-lo. (...)Em uma palavra: comodismo dos que só se expressam entre aspas. "

    É incrível como descreveu grande parte de meus pensamentos nesse texto, sobre intelectualismos, e pessoas realmente cultas que não têm percepção de sua imensa ignorância. Cheias de conhecimento que adquiriram de outras pessoas que adquiriram os seus também de outras e assim sucessivamente. É bom ter cultura para se viver em sociedade, para saber agir, para saber pensar... é sempre bom ter conhecimento, e além de tudo é agradável. Contudo, a grande verdade só aparece quando a ideia vem somente de você, mesmo que pareça incompreensível aos outros. A gente precisa pausar o livro que estamos lendo, fechar os olhos, e refletir sobre se realmente concordamos com aquilo, ou se estamos apenas digerindo e ficando "inteligentes" sem a reflexão, através de um nome cultuado.

    P.S.: já tem algum livro publicado? se não tem, está na hora de publicar um, sério.

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  4. Ah, a tão recorrente indignação dos intelectuais...
    Eu concordo com grande parte do que você disse, mas deixe-me remeter a Hesse, Demian, Pistorius... ou apenas algo que eu sempre pensei... e que por isso só completa o que Hesse disse.
    Antes disso, um parenteses. Não é bem a racionalidade que falta aos reles transeuntes, essa eles tem, te garanto - afinal ninguém compra um pão ruim de 50 centavos e deixa de comprar um bom por 25. O que falta é a coragem de seguir o caminho penoso, o doloroso e árduo... o caminho da dúvida, do questionamento - e isso, é claro, o capitalismo enquanto sistema social vigente não permite, pois trata-se de uma defesa contra a destruição de suas bases, o lucro (Portanto, se um pão ruim de 50 centavos é vendido numa padaria de status social alto, muitos o comprarão, mas não por seu sabor, mas sim para degustar sua passagem a um falso respeito social - assim devemos romper com as bases anti-racionais da sociedade atual e não atacar as vítimas indefesas, incapazes de soltarem-se das correntes do conforto, ah, e que correntes heim)
    Voltando a Hesse: Não se trata de permitir e garantir o acesso ao conhecimento e a assimilação dele, mas sim garantir a reflexão. É claro que ler Freud e entendê-lo é mais simples do que empiricamente chegar a conclusões parecidas, mas não é impossível. Basta tomar de exemplo os escritores. A grande maioria deles chega a perguntas e conclusões semelhantes sem nunca terem trocado uma palavra, a resposta é inata ao ser humano, a pergunta é que é rara, nesses tempos ímpios, onde pensar é mais raro que a honestidade.
    Devemos, portanto, estampar a famosa frase de Tirésias por cada esquina de nossas cidades: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”
    Assim deixaremos de andar a esmo, cegos e estúpidos pelas correntes do capitalismos... Venham em contracorrente, em contracultura!

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  5. Eu achava que já te seguia. Tsc.

    Com a proliferação de discursos, a cultura de massa absorve o que lhe é jogado - toda a confusão e banalização oriundas da procura pela liberdade total. Tudo virou moda. Clarice Lispector virou moda. Clarice deixou de ser lida e estudada para virar citação versicular em páginas de orkut de frases que, muitas vezes, nem mesmo são delas. Um verdadeiro crime com sua obra, que não merece ser retalhada em trechinhos para servir de "prova de superação" das amarguradas e chutadas por seus respectivos ex-amantes. Nem sei porque estou falando de Clarice.
    Vou sentar em frente ao twitter, pega uma coca-cola, dar RT em frases do Caio Fernando Abreu, esperando alguma atriz da Globo entrar.
    É.
    Tsc.

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  6. Estou sem palavras para comentar. Vou apenas refletir. Abraço.

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Se não leu, não comenta bobagem certo?
Obrigado o/