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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sobre estes dias.

 Por Marcos Araújo              


 Encontrem-na. Necessito de uma bolha hermética para as subjetividades desses tempos de fim, ou recomeço, no entanto, mais tempo de uma longa cadeia de acontecimentos extraordinários e corriqueiros que asfaltam as avenidas periféricas da vida. Tempo que se inicia desde o momento que o mundo ainda parecia uma Caixa de Pandora deveras indefesa e bonita de se contemplar, quando todas as pessoas ao redor eram demasiadamente estranhas e sorridentes, exceto duas delas, separadas do resto do mundo naquele momento: nossos pais.
Ao redor de quase todos, e me refiro a uma maioria, existe uma atmosfera maldosa de profusão de amor, reconhecimento do próximo, bons agouros, corporativismo familiar etc.Tudo isto surge numa fração tão insignificante de tempo que coaduna o seu valor interpessoal de acordo com a duração de sua construção, pois, não me permito deixar de reiterar que isso se chama hipocrisia.
Talvez a minha ressalva com datas comemorativas sejam engendradas de motivos assim, me parece que as pessoas não se importam com a manutenção da máquina motriz de suas vidas quando pensada na ótica e na companhia do outro, mas existem datas para apertar cada parafuso solto ou trocar uma peça enferrujada que faz barulho demais. Ninguém quer ser o que faz o barulho, ninguém quer ser o cerne da crítica da opinião pública, ninguém quer se expor, ninguém que estabelecer a derrocada de um padrão.
Meu valor cabe a quem se percebe e se mostra até um determinado limite, gente que sabe fazer arte com as idéias de um modo que quem a enxergue esteja essencialmente conectado com ela sem perceber. Essa é a arte das palavras, da telas, das músicas, no entanto, é proeminentemente a arte de saber viver com a dignidade de ser o que é e de pensar com a própria cabeça, andando com as próprias pernas e seguindo apenas trilhas as quais foram julgadas como um caminho melhor ou o melhor caminho. Não o que todos querem e fazem por todos terem feito, não o que ninguém quer, ou o que você não quer, mas por alguma razão que não pertence aos optantes, faz, escolhe, prefere e sorri.
Nem todos os Natais são tão Natais para tão belo parecem. Isso pode construir a angústia dentro de um ser humano que está erroneamente inscrito no mundo das frivolidades comemorativas em série, pois, a sua vida, a sua casa, a sua família, sequer a sua árvore é a mesma do seu vizinho. Pode não existir uma casa, uma família ou uma árvore para você, o fato é que sua vida esteve assim o ano todo e você soube eleger correlatamente com outros iguais os dias do fim do ano para imergir num lago gélido de dor. O ano que surge não traz consigo o ensejo de transformação, quem quiser derrubar gigantes com pedrinhas terá primeiro que construir suas barricadas e angariar munição.

"São curtos os limites que separam a resignação da hipocrisia"

Francisco Quevedo


O que entendemos por felicidade, por vezes se confunde com idealizações incontáveis, cheias de ornamentos vazios. Não existe como conter o mundo inteiro na palma das mãos, o homem não pode tabelar o limite da felicidade de qualquer pessoa num calendário colorido pendurado na nossa parede, coordenando nosso sorriso, agendando-o. Sejamos felizes, apenas. O máximo possível, sempre que for possível. Pois, bem diria o nosso poeta: tristeza não tem fim, felicidade sim.

4 comentários:

  1. É por esses e outros motivos que deixei de gostar do "Natal", parabéns pelo Blog
    http://yoshigarage.blogspot.com/

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  2. Eu sempre deixo minhas críticas ao natal, pelo fato de ter se tornado o que é hoje. Independente de religiões, a mensagem de esperança e fraternidade que deveria circundar a data, fica em segundo plano comparada ao fator comercial que a envolve.

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  3. E...a verdade e que a essencia de natal foi se perdendo ao longo dos anos. Nao que eu ache que a essencia tenha algum embasamento real, mas esse lance de menino Jesus, nascimento, mudancas, paz amor, prosperidade e bla bla bla nao passa de um puro clichezismo!! A familia feliz naquela mesa com peru, chester, uvas, tomando coca cola e o que reina hoje!!! Eu particularmente nao gosto do dia de natal, nao seja pela boa comida e pelo feriado, e claro. Nao vejo sentido algum, um pais tropical, enfeitar pinheiros, arvores tipicas de paises de clima temperado, e a galera se ridiculariza colocando bolas de algodao pra representar neve, num pais em que o gado morre no nordese!!! Mas a fantasia faz parte, gira a economia, enriquece os mais ricos e aumenta o numero de pessoas no SPC, fortalecendo a ideologia de que pobre so tem as coisas fazendo divida!!!

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  4. Ah... o Natal! Eu realmente me pego pensando no significado disso tudo. Acho muito bonito que todos desejem paz e amor aos povos, e queiram bem ao próximo, porém, se desejassem verdadeiramente, se fizessem algo a mais do que sentar em uma mesa e fazer aquilo que a sociedade lhes impõe como celebração. E fazer ainda em uma data marcada. O caso é que ninguém se importa de verdade, e mesmo que alguns se importem, de que adianta fazê-lo uma vez ano ano?
    Algo que me perturba ainda mais que o Natal, é o ano novo e as listinhas que muitos fazem. Como se a mudança de ano fosse gerar uma transformação descomunal em nossas vidas; como se fosse verdade que o fim do ano significasse uma nova chance. Claro que é uma boa maneira de fazer com que as pessoas ao menos tentem transformar-se nem que seja por uma data "especial". Mas elas não poderiam entender que essa transformação deveria suceder todos os dias? Não, não entendem por que nem pensam mais em nada, celebram o que tem de ser celebrado, empurram a felicidade das datas comemorativas goela abaixo igualmente por todos os anos e assim são felizes ou acreditam que são. Essa hipocrisia toda me perturba profundamente.

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Se não leu, não comenta bobagem certo?
Obrigado o/