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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Cães só entram na igreja quando a porta está aberta.

 Por Marcos Araújo

Roguem pelo Ministério Público, pela maior emissora do país, bradem, ergam despiciendamente os braços aos céus clamando pela retirada do Big Brother Brasil do ar, mas é saudável entender desde sempre que o querer, conjugado tão somente na segunda pessoa, permanecerá dantesco, e o BBB, como de costume, sustentado pelos milhões arrecadados por semana, que pagariam um cachê mastodôntico para cada um dos participantes de logo, no limiar do programa, permanecerá. A saga sem fim capitaneada por Boninho, cujos adjetivos para classifica-la dispensaram panos quentes noutro programa da Rede Globo, qual seja, essa coisa ruim invadirá os lares, os bares e as manchetes a cada Janeiro novo.

A invasão do Big Brother no cotidiano comum não é o problema, quando a Bahia foi invadida pela Holanda pela primeira vez, suscitou escárnio pelo despreparo escamoteado pelas muralhas frágeis que de nada serviram para proteger as pessoas que ali habitavam. Nossas barreiras estão desfalecidas, com o advento da inclusão digital, da explosão inequívoca das redes sociais; e, sublinhem-se, com a velocidade estonteante que as informações circulam, muitos restam atarantados, a ponto de pairar numa inércia perigosa, numa grande caverna onde o senso crítico, ou até mesmo o bom senso passa despercebido nas projeções das sombras do lado de fora, onde o calor das novidades fúteis  são primordiais, aquelas que em quase nada podem ser frutíferas.

Com ou sem estupro na 12ª edição do Big Brother Brasil, o pedido é que mantenham toda parafernália no picadeiro; no entanto, que seus telespectadores ferrenhos sejam desligados, reiniciados, formatados, seja lá qual termo que se adeque melhor. Mas é preciso despi-los do ego e de todas as construções deste advindos, para que todos possam se tornar tábulas rasas, folhas em branco, potes vazios, pois que nem sempre o vazio há de ser ruim. A neutralidade resguarda a vantagem de nos tornar permeáveis a segundas opiniões, nos torna acessíveis para adquirir conhecimento útil, e nos concede base firme para também saber julgar o que é inútil e retirar dele diamante verdadeiro como todo aprendizado que nasce de coisas/experiências ruins. É uma forma de reciclar.

A experiência humana vivida não será mais ou menos valorosa por conta do que assistimos ou deixamos de assistir, contudo, refletir-se-á sobre quem estamos sendo, e sobre o que tentamos ser na medida do empreendimento dos esforços. O senso de valor e tempo despendido com um reality show no nível do BBB penderá do aparato cultural, social, educacional que cerca o indivíduo, e principalmente pela sua capacidade de julgar de que forma aquelas informações podem interferir na sua vida, a questão pode se reservar a mera escolha consciente ou mais um tiro no escuro de quem nada de si espera.  Não há futilidade e outras discrepâncias inomináveis apenas no reality em comento. Há quem viva para outros programas, há quem viva a vida dos outros sem pudor algum sem entender como viver a própria vida.

Hoje se reverbera quase em uníssono pela extinção do programa, o clima é de motim, amanhã outra massa pode clamar injustamente contra essa que hoje se insurge contra o reallity, a liberdade no meio da balbúrdia, vacilante, encontra guarida em alguns discursos, mas não se efetiva totalmente, a censura moral de alheio-terceiros vai se tornando cada vez maior. Enquanto isso cai as máscaras de magistrados que envergonham o Judiciário do país, estudantes ao redor do Brasil são vilipendiados pela clientela da violência afigurada na polícia, crescem as tarifas de ônibus injustificadamente,  cresce o número dos viciados em crack, cresce a violência, e estupram todos aqueles que buscam emergir neste grande mar de bioquices e desfuncionalidades funcionais que se espelham no Brasil.

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