Por Marcos Araújo
Passa as chaves, João. Passa teu celular, passa tua pasta, tuas calças, seu sapato, seus segredos, já passara há tempos a confiança, agora passa o tênis, conserva o medo, passa teus olhos a me evitar, e a me identificar como um não Ser, como moléstia decadente que contagia adstritamente o que toca, o que anseia, o que olha com olho bandido. Passa, mas não fala, João. Cala – na verdade – passa tua voz, teu pranto, tua felicidade, deixa arrancar de ti toda mansidão que me falta, deixa arrancar-lhe teu pão, tuas vísceras alumiando a noite espúria feito âmbar, passa teu tempo e teu horror, meu alimento, passa correndo a carteira, documento – pra que enfim seja eu alguém. Arranca teu cordão, despe das vestes, nem pede arrego a quem não te quer ouvir. Se fores arrimo de família, filho, ou irmão, passa-me então a tua vida que nada vale nesta trilha qual malogrado tempo emergiu, passa a lembrança, o riso calmo. Arranco-lhe a
Uau... Adorei!!! Um tanto profundo e muito bem escrito. Parabéns.
ResponderExcluirBeijos
http://verdadesintrinsecas.blogspot.com/
Maravilhoso.
ResponderExcluir