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terça-feira, 23 de novembro de 2010

O que fazem seus filhos agora?

Reificaram-nos, sim, somos coisas, objetos instrumentalizados para produzir, para quebrar a monotonia da rotina que se impõem em regra e nos esconder pacientemente em nossas casas aguardando que o dia recomece para a gente correr novamente. Isso é o que fazemos o tempo todo, estamos correndo, ocidentalizando nossa essência paulatinamente, corremos da polícia, corremos do ladrão, corremos para o trabalho, para a faculdade, para o médico, para múltiplas reuniões, corremos, corremos, corremos e a maldade implícita na rotação dos ponteiros dos relógios só se fazem valer quando a gente para, e nossas pernas já não obedecem mais a quem é de direito, ali o mundo materializa-se como é, sem ornamentos, sem má fé contra si mesmo, e a gente topa de frente contra tudo que temos fugido. Ali é que o mundo cai por terra.

Quando falta chão, quando não há mais lei de Deus para recorrer e quando a lei dos homens já não é suficiente para a maldade humana, é que paramos de correr, então queremos mudar tudo o que não foi mudado tantas outras vezes em apenas um instante de melancolia, as papilas da língua sentem o amargar da insegurança avançando e os olhos registram tão bem a trivialidade vulgar da morte de um garoto pobre, negro, morador da periferia, morrer dentro de casa ao se preparar para dormir.Ele enseja rever num outro dia o mesmo aspecto sujo que permeava sua rua, o tráfico de drogas que já preteriu o silêncio e hoje constitui uma verdadeira feira livre de narcóticos e armas de fogo, naquele menino havia um pouco de esperança, inclusive na sua capoeira, pois, não perdemos todas as nossas crianças ainda, seja para a morte legítima, ou para os assassínios sociais.

"Pelas vias tortas o Poder público se destrói: o Estado mata seu garoto propaganda, imagem não é tudo".
Malu Fontes
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O Terror tem nome, gênero e certidão de nascimento, se sua aplicação fatal anunciava na França quais cabeças rolariam em outra manifestação política de crueldade, o que temos então é uma adaptação letal de um contexto histórico até então considerado hostil e/ou caduco. Seria o homem do século XXI o dirigente de tamanha barbárie?As duas garotas decapitadas em Salvador na madrugada de sábado não evidenciam anacronismo algum. Podemos nos vangloriar pelos Ipads, pelas novas propostas de energia renovável, ainda há quem se permita odiar os gays, espancá-los, odiar os nordestinos, humilhá-los, somos todos ultramodernos; todavia, olhar com desprezo para índios autóctones que promoviam rituais de antropofagia, devorando apenas guerreiros dignos de ser devorados, e assistir com resguardo cabeças rolando na periferia da capital da Bahia, sob a égide da criminalidade, da impunidade e do silêncio, isso sim é selvageria, somos mais cruéis que qualquer jacobino extremado e mais selvagens que qualquer tupinambá.


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Caso não saiba, existe sim pena de morte no Brasil, via de regra para o cidadão honesto, de um lado agentes institucionais cujo princípio ético e legitimado da profissão é (seria) nos proteger, no outro extremo, os filhos bastardos da pátria amada, os que quase sempre estiveram do lado de fora das cordas do bloco camaleão, longe das vitrines bonitas dos shoppings, aquém das expectativas do mercado de trabalho, e talvez, principalmente, longe de escolas de verdade, ou seja, as que se estendem além de lousa, carteira, lápis e borracha. Nós estamos exatamente no meio, acocorados enquanto o tiroteio não cessa. Cada projétil funesto anuncia e encerra a vida de mais um miserável, mais um branco, mais um negro, mais qualquer ser humano que mais tarde entrará numa antologia jornalística, junto com todos os outros cujo sangue foi derramado em vão.

 Não compreendo se vivo na Itália fascista de Mussolini, se permaneço calcado indefeso nas mazelas do neonazismo, não entendo se respeito à Lei do Talião, ou se devo tomar cuidado com os castigos da Inquisição, porém, ao menos de uma coisa tenho certeza, como diria Ismael Benigno: “Eu quero ir embora desta Somália disfarçada”.

3 comentários:

  1. É verdade. Eu tmb nao compreendo mais onde vivo. Cada coisa que acontece... Temos que acabar com essas intolerâncias =X

    Se puder retribuir:
    http://entendaque.blogspot.com

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  2. Não consigo entender o sentido de muitas coisas na sociedade atual. isso perturba!
    tomara que as coisas mudem em breve,
    precisamos de inumeras mudanças sociais e compornamentais para quem sabe termos esperança.

    www.aliradeorfeu.blogspot.com

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  3. Infelizmente esses casos são constantes no nosso país, confesso que a esperança de que um dia tudo isso muda, está preste a enfraquecer.

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Se não leu, não comenta bobagem certo?
Obrigado o/