Se existem mais de seis bilhões de pessoas no planeta Terra e nós necessitamos de uma para viver, para ser a outra unidade do par de sapatos, do pé da meia, da banda simétrica de laranja, então presumo que devo ter desertado no espaço, vagava por aí buscando minha origem e caí aqui por acaso, pois que, essa filosofia de salão de beleza não preenche meus olhos, não constitui uma idéia digna de ser adotada nessa realidade que não diria ser só minha.Sufoca-me viver cercado destes novos românticos, mitomaníacos, os romeus afetados do século XXI, as Julietas feministas e caçadoras de Amélias. As meninas e meninos que esperavam um alasão e príncipes encantados aparecendo entre os arranha-céus, amontoaram-se tristonhos nos seus quartos (a própria torre de marfim); os homens do alto do machismo tão bem ensinado pelas mães nas lições irrevogáveis de virilidade, aguardam suas futuras esposas virgens, permissíveis e submissas.Eu não conheço mais esse mundo.
Viver com alguém se tornou uma obrigação, não compete mais a vontade própria, tem se tornado questão de opinião pública, essa não é uma idéia nova, sempre foi vendida, desde sempre os livros, os quadros, as músicas, o teatro, falam do amor romântico como algo inerente a vida em medidas hiperbólicas, ultrapassando até mesmo limites temporais, não conheci a história de nenhum ser humano que amou alguém ou tantas outras pessoas por toda a vida, sem aquela pausa para repensar conceitos e ou preconceitos. Se essa idéia, ou norma social instituída pelo costume, tem sido amplamente adotada, associo essa linha de raciocínio ao desinteresse por outros fatores presentes e determinantes em nossa vida, como os estudos, sendo este um exemplo de força notável. Caro leitor, não duvido que conheça alguém que já abdicou e ou tem abdicado do investimento em si próprio para delegar o dever de ser feliz e bem sucedido na imagem de outrem, isso é inconseqüência.
" O certo é o que é bom para mim. E sei que todos deveriam viver assim; não viver como eu, mas viver da melhor forma possível - para eles e não para a sociedade."
Os novos psicólogos surgem de todos os cantos, são os amigos, vizinhos, conhecidos, mas a internet parece instrumentalizar as práticas de carência dessas pessoas da forma mais pública possível, quanto maior o drama, quanto maior for à necessidade de achar a sandália velha para um pé já adoecido, por conseguinte, maior é a visibilidade desse sofrimento atroz, dessa solidão maldita própria do século XXI e tão bem ampliada pelos que dizem sofrer suas mazelas.São atores, tantas vezes pessoas imersas num mar de hipocrisia e promiscuidade justificada com a procura do amor verdadeiro, se todos somos livres e iguais, condicionados a respeitar mores, folkways e regulamentos jurídicos, temos direito de nos relacionar com quem for conveniente, é verdade, mas nossos amigos, vizinhos e conhecidos, àqueles que fazemos de psicólogos informais constantemente, não têm obrigação de lidar com os problemas que a gente cria, alimenta e entrega para eles pensarem e solucionarem, não existe o que cobrar nessa relação; não obstante, bom senso faz bem numa má hora destas.

Tenho corrido dos discursos de fracasso emocional, dos namorados e namoradas semanais que estão sempre atualizando os dados do seu banco de currículos afetivos, das lágrimas falaciosas de alguns chegados, eu corro, corro e cada vez que chego adiante, cada vez que dobro uma esquina, encontro mais um deles jogado pelos cantos choramingando a ausência de outra pessoa ali do lado dando um sentido para suas vidas insossas, digo que são um bando de chatos e se eu disser qualquer dia para um deles que estou infeliz também, é para maquiar o tamanho da minha satisfação e felicidade na cama, no jogo e no amor, não pensem mal, pois essa é a minha profilaxia contra esse baixo astral generalizado, vai que isso pega?